Starlink foi desligado por ordem de Musk durante avanço da Ucrânia contra Rússia
Em setembro de 2022, durante uma das fases mais críticas da guerra entre a Ucrânia e a Rússia, o bilionário Elon Musk, fundador da SpaceX e proprietário da rede de satélites Starlink, teria ordenado o desligamento do serviço em áreas estratégicas da Ucrânia, incluindo a região de Kherson. A decisão, conforme revelado por pessoas próximas ao episódio, interrompeu temporariamente uma contraofensiva ucraniana e causou pânico entre as tropas de Kiev, que dependiam do sistema para comunicações militares e monitoramento em tempo real.
A ordem, transmitida a engenheiros da SpaceX na Califórnia, resultou no desligamento de mais de uma centena de terminais Starlink. A medida não apenas afetou operações com drones, que monitoravam movimentos russos, mas também comprometeu a precisão de unidades de artilharia que utilizavam a rede para coordenar ataques.
Leia mais:
Starlink libera internet grátis: aprenda a ativar no celular
O impacto do desligamento da Starlink na contraofensiva ucraniana
Segundo um oficial militar ucraniano e um assessor das Forças Armadas, a falta de comunicação causada pela interrupção fez com que uma operação para cercar tropas russas em Beryslav, a leste de Kherson, fosse abortada. “O cerco foi totalmente interrompido. Fracassou”, declarou o militar à Reuters.
Dependência tecnológica em campo de batalha
A Starlink se tornou vital para as forças ucranianas desde os primeiros dias da invasão em larga escala da Rússia, em fevereiro de 2022. O sistema de internet via satélite ofereceu uma conexão estável, mesmo em áreas com infraestrutura destruída, garantindo comunicações entre soldados e o uso de drones para inteligência.
A interrupção, portanto, não apenas abalou a confiança da Ucrânia na rede, mas levantou questões estratégicas sobre a dependência de uma tecnologia controlada por uma empresa privada estrangeira, especialmente durante conflitos armados.
Elon Musk e a decisão polêmica
Ainda não está claro o que levou Elon Musk a dar a ordem de desligar a Starlink em áreas estratégicas. Pessoas próximas ao empresário afirmam que ele temia uma retaliação nuclear da Rússia caso a Ucrânia conseguisse avanços significativos na região de Kherson.
Contradições públicas
Em março de 2023, Musk declarou no X (antigo Twitter) que “nunca faria uma coisa dessas”, negando interferências ativas no conflito. Contudo, o novo relato contradiz essa versão, mostrando que o bilionário, ao menos em uma ocasião, tomou uma decisão direta que impactou a guerra.
A SpaceX, empresa de Musk que opera a Starlink, se limitou a dizer que a reportagem da Reuters era “imprecisa”, sem fornecer detalhes sobre quais informações estariam incorretas.
O papel estratégico da Starlink na guerra
A rede de satélites da Starlink é considerada um dos avanços mais importantes em comunicação militar da última década. Com mais de 5.000 satélites ativos, a constelação fornece acesso rápido e confiável à internet em regiões remotas, algo crucial para operações de guerra.
Importância para a Ucrânia
- Drones militares: utilizados para reconhecimento e ataques, dependem de comunicação estável.
- Artilharia de precisão: equipes no front dependem da rede para receber coordenadas atualizadas.
- Comunicação entre tropas: permite coordenação em tempo real, mesmo com a infraestrutura de telecomunicações destruída.
A Ucrânia continua utilizando a Starlink até hoje, e o presidente Volodymyr Zelenskiy já expressou gratidão pública a Musk pelo suporte. No entanto, o episódio de 2022 gerou desconfiança sobre a confiabilidade da rede em momentos críticos.
Repercussão política e militar
A interferência de Musk no conflito reacendeu o debate sobre o poder de empresas privadas em situações de guerra. Especialistas em segurança global destacam que, com o domínio da Starlink, Musk possui um grau de influência geopolítica que normalmente seria restrito a governos soberanos.
Críticas de líderes internacionais
A parlamentar britânica Martha Lane Fox destacou que o controle da Starlink “depende exclusivamente de Musk, permitindo que seus caprichos ditem o acesso à infraestrutura vital”. Esse tipo de poder concentrado, segundo ela, representa um risco global.
Nos Estados Unidos, autoridades militares expressaram preocupação com a falta de regulamentação sobre sistemas privados em cenários militares. O Departamento de Defesa norte-americano, no entanto, não comentou o episódio.
A guerra da Ucrânia e a influência de Musk
A decisão de Musk se soma a uma série de episódios que mostram seu envolvimento indireto no conflito. Desde o início da guerra, a SpaceX forneceu milhares de terminais Starlink à Ucrânia, parte deles doados, outros financiados por países aliados, como os EUA e a União Europeia.
Contudo, o desligamento parcial em setembro de 2022 expôs os riscos de depender de um único fornecedor privado para manter a conectividade em uma guerra moderna. Segundo fontes, autoridades ucranianas buscaram explicações junto ao Pentágono durante a falha, mas receberam poucas informações sobre o motivo da interrupção.
Geopolítica e negócios de Elon Musk
O episódio também ressalta como os negócios de Musk estão cada vez mais entrelaçados com questões militares e governamentais. Além da Starlink, a SpaceX é parceira do governo dos EUA em projetos de defesa e lançamentos espaciais, consolidando o empresário como uma figura de influência global.
Relação com Trump e críticas recentes
Após atuar brevemente como conselheiro de Donald Trump, Musk rompeu publicamente com o ex-presidente e anunciou planos de formar um novo partido político. Trump, por sua vez, ameaçou cortar contratos e subsídios federais às empresas de Musk.
Essa relação conflituosa pode impactar futuros contratos de defesa envolvendo a Starlink e a SpaceX, já que o governo norte-americano avalia alternativas para não depender exclusivamente dos serviços do bilionário.
A Starlink e o futuro da guerra tecnológica
O episódio em Kherson serve como exemplo de como a tecnologia privada está redefinindo o conceito de poder militar. A capacidade de uma única empresa interromper comunicações em um campo de batalha levanta questões sobre quem deve ter o controle de infraestruturas críticas em situações de conflito internacional.
Regulamentação em debate
Analistas defendem que países e alianças militares, como a OTAN, desenvolvam protocolos de governança e contratos de uso mais rígidos, evitando que decisões individuais possam interferir em estratégias de guerra.
Imagem: Freepik/ Edição: Seu Crédito Digital