Maioria dos trabalhadores informais querem carteira assinada
Sete anos após a reforma trabalhista no Brasil, pesquisa da FGV-Ibre revela que 70% dos trabalhadores informais desejam carteira assinada
Em um contexto de transformações significativas no mercado de trabalho brasileiro, uma pesquisa recente do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre) revela um cenário preocupante: sete anos após a implementação da reforma trabalhista, cerca de 70% dos trabalhadores informais desejam ter um emprego com carteira assinada.
O estudo destaca um descompasso entre as promessas de criação de empregos formais e a realidade enfrentada pelos trabalhadores autônomos. A Reforma Trabalhista, aprovada em julho de 2017, foi um dos marcos legislativos mais polêmicos da última década no Brasil.
A principal promessa era a geração de 6 milhões de empregos ao longo de dez anos, com um impulso inicial de 2 milhões de empregos em dois anos. A reforma visava modernizar a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e reduzir o desemprego, que havia aumentado drasticamente desde a crise político-econômica de 2015.
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O Que Prometeu a Reforma Trabalhista?
Entre as principais alterações da Reforma Trabalhista introduzidas estavam:
- A prevalência de acordos entre empregadores e empregados sobre as disposições da lei;
- Dificuldades adicionais para trabalhadores processarem empresas;
- Possibilidade de parcelamento de direitos como férias;
- Enfraquecimento dos sindicatos com o fim da contribuição obrigatória, mudança que foi posteriormente retificada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A Realidade Atual dos Autônomos
Sete anos após a reforma, a realidade dos trabalhadores autônomos, que era uma das categorias mais atingidas pela reforma, revela um quadro desolador. De acordo com a pesquisa da FGV-Ibre, realizada com 5.321 pessoas e com uma margem de erro de dois pontos percentuais, 67,7% dos autônomos expressam o desejo de ter um emprego com carteira assinada.
A Situação Financeira dos Autônomos
O estudo aponta que 44% dos autônomos ganham até um salário mínimo (R$ 1.412). A insatisfação é mais pronunciada entre os trabalhadores informais com menor renda. Entre aqueles que recebem até um salário mínimo, 75,6% preferem a estabilidade e os benefícios de um emprego formal.
Para os que têm renda entre um e três salários mínimos, a preferência por um trabalho com carteira assinada é de 70,8%.
Perfil Demográfico dos Trabalhadores Informais
A maioria dos trabalhadores informais no Brasil é composta por homens e pessoas negras. Aproximadamente 66% dos informais são homens, e 54,5% se identificam como pretos ou pardos. Além disso, 38% dos informais têm entre 45 e 65 anos. Este perfil revela um panorama de vulnerabilidade e baixa segurança financeira entre os trabalhadores autônomos.
As Consequências da Reforma Trabalhista
Apesar das intenções declaradas de reduzir o desemprego e fomentar a criação de empregos, a realidade tem sido bem diferente. A taxa de desemprego, que estava em 6,6% em 2014, subiu para 12,9% em julho de 2017, quando a reforma foi aprovada, e atingiu um pico de 14,9% em março de 2021, exacerbada pela pandemia.
A taxa de desemprego começou a cair apenas após a pandemia, chegando a 6,9% na média de abril a junho de 2024.
Impacto na Renda e Segurança Financeira
Os autônomos enfrentam maior insegurança financeira em comparação com os empregados com carteira assinada. Apenas 45% dos autônomos conseguem prever sua renda para o próximo semestre, enquanto esse percentual é de 67,5% entre os trabalhadores com CLT.
Além disso, a renda dos autônomos pode oscilar significativamente de um mês para o outro, com 19,8% experimentando variações superiores a 20%, enquanto apenas 4,7% dos trabalhadores com carteira assinada enfrentam essa volatilidade.
A Relação com a Terceirização
Além da reforma trabalhista, o Congresso também aprovou a lei das terceirizações em 2017, que permitiu às empresas terceirizarem até suas atividades principais. Essa lei, assim como a reforma trabalhista, visava criar mais empregos, mas acabou resultando em condições ainda mais precárias para os trabalhadores.
A pesquisa de 2015 revelou que os terceirizados trabalhavam mais horas e recebiam menos do que seus colegas com contratos diretos.
Assim, a pesquisa da FGV-Ibre ressalta que a reforma trabalhista contribuiu para o aumento do trabalho flexível, mas a maioria dos trabalhadores não consegue obter uma remuneração adequada.
Considerações Finais
Sete anos após a reforma trabalhista, o cenário revela uma discrepância significativa entre as promessas de geração de empregos e a realidade enfrentada pelos trabalhadores.
A pesquisa da FGV-Ibre destaca que a maioria dos autônomos prefere a segurança e os benefícios de um emprego com carteira assinada, refletindo uma insatisfação generalizada com a informalidade e a falta de proteção no mercado de trabalho.
Embora a reforma tenha buscado flexibilizar as relações de trabalho e reduzir a burocracia, os resultados demonstram que a proteção social e a estabilidade ainda são altamente valorizadas pelos trabalhadores. O debate sobre a eficácia da reforma e suas consequências continua relevante, especialmente considerando o impacto prolongado na vida dos trabalhadores brasileiros.
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