Prestes a ser condenada, vice-presidente diz ser perseguida como Lula
Acusada de chefiar uma organização criminosa, vice-presidente diz que, assim como Lula, é vítima de perseguição política e midiática
A vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, se comparou ao presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dizendo que ambos sofrem perseguições da Justiça e da mídia. A declaração foi dada em entrevista à colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo.
Kirchner é acusada de chefiar uma organização criminosa no período em que foi presidente da Argentina. Ela nega as acusações e diz ser vítima de perseguição política. A sentença do julgamento deve ser divulgada pela Justiça do país nesta terça-feira (6).
Acusada de desviar verbas, vice-presidente se comparou ao presidente eleito Lula
A atual vice-presidente argentina é acusada de liderar uma organização que desviava verbas públicas para obras na província de Santa Cruz, da qual seu falecido marido e ex-presidente Néstor Kirchner era governador. O esquema teria ocorrido entre 2007 e 2015, quando Cristina foi presidente do país.
O Ministério Público da Argentina pediu, em agosto, 12 anos de prisão para a vice-presidente. Segundo a denúncia, as obras estavam superfaturadas e eram desnecessárias.
Kirchner nega as acusações e diz ser vítima de um “pelotão de fuzilamento”. Comparando-se ao presidente eleito Lula, ela argumentou que os dois foram vítimas de lawfare. Esse é o nome dado à utilização do sistema legal, por parte de agentes da Justiça, para perseguir inimigos políticos.
“O fenômeno do ‘Partido Judicial’ aconteceu com Lula, com [o ex-presidente do Equador Rafael] Correa e acontece comigo”, disse.
“Com Lula, a mesma coisa. A diferença é que as mesmas pessoas que o meteram preso depois foram buscá-lo e reverteram o que tinham feito”, afirmou Kirchner.
Kirchner comenta prisão de Lula
“Eu vi nessas últimas eleições no Brasil jovens dizendo: ‘Não vamos votar no Lula porque ele foi preso, não vamos votar em presidiário, em ladrão’. Essa é a construção do senso comum por parte não apenas do Judiciário, mas também da mídia. Porque os juízes não podem fazer o que fazem se não tiverem um braço midiático”, argumentou Kirchner.
Lula foi preso em abril de 2018 por ordem expedida pelo então juiz Sergio Moro. O ex-presidente foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá.
Depois, em novembro de 2019, uma mudança de entendimento do STF sobre a prisão em segunda instância resultou na soltura de Lula. Na ocasião, a Corte entendeu que réus só podem ser presos quando não couber mais recursos no processo.
Em julgamento mais recente, em 2021, o STF decidiu que o juiz Sergio Moro foi parcial no julgamento de Lula, o que desrespeita as normas da legislação. Dessa forma, o processo foi anulado.
Kirchner será presa?
Se for condenada, a vice-presidente argentina poderá recorrer. Ela também não pode ser presa a não ser em caso de impeachment, pois é protegida pela mesma imunidade constitucional que protege o presidente.
Aos 69 anos, Cristina Kirchner já foi deputada, senadora, primeira-dama e presidente da Argentina duas vezes.
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