ANP suspende fiscalização da qualidade dos combustíveis por falta de verba
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) anunciou na segunda-feira (23) que, devido a restrições orçamentárias severas, suspenderá o Programa de Monitoramento da Qualidade dos Combustíveis (PMOC) durante todo o mês de julho.
A decisão foi comunicada oficialmente e implica também uma redução na amostragem do Levantamento Semanal de Preços de Combustíveis (LPC), impactando diretamente a fiscalização e a transparência do setor.
Além disso, a agência adotará medidas para cortar despesas com diárias, passagens aéreas e diminuirá os recursos alocados para fiscalização em geral, no intuito de adequar suas operações ao novo orçamento reduzido.
As reuniões, audiências públicas, workshops e outros eventos institucionais passarão a ser realizados de forma remota, e todos os contratos estão sendo rigorosamente analisados para identificar possíveis ineficiências.
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Restrição orçamentária histórica afeta funcionamento da ANP
Queda drástica nas despesas discricionárias corrige pelo IPCA
Segundo nota oficial da ANP, a agência enfrenta restrições orçamentárias recorrentes desde 2013. Quando corrigida pelo IPCA, a verba para despesas discricionárias caiu de R$ 749 milhões para apenas R$ 134 milhões em 2024, o que representa uma redução de 82% em pouco mais de uma década.
Para 2025, a previsão orçamentária para despesas discricionárias era de R$ 140,6 milhões conforme o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA).
Entretanto, com a publicação do Decreto nº 12.477, em maio deste ano, houve bloqueio de R$ 7,1 milhões autorizados para execução de despesas e contingenciamento adicional de R$ 27,7 milhões, reduzindo os recursos totais para R$ 105,7 milhões.
Impacto direto nas atividades da agência
A ANP alerta que essa redução substancial nos recursos comprometerá o funcionamento geral da agência, obrigando cortes que incluem a suspensão do PMOC, uma das principais ferramentas de controle da qualidade dos combustíveis no Brasil.
“A redução desses recursos afetará de forma geral o funcionamento da ANP e obrigará a Agência a reduzir suas atividades”, destacou o comunicado oficial.
Programa de Monitoramento da Qualidade dos Combustíveis (PMOC)
Importância do PMOC para o setor
O PMOC é um programa fundamental para garantir que os combustíveis comercializados no Brasil atendam aos padrões mínimos de qualidade estabelecidos pela legislação.
A fiscalização regular protege os consumidores contra fraudes e produtos adulterados, assegurando a eficiência dos motores e contribuindo para a redução da poluição ambiental.
Suspensão por um mês gera preocupação no mercado
A suspensão do PMOC por todo o mês de julho representa um intervalo sem monitoramento rigoroso da qualidade dos combustíveis, o que pode abrir espaço para práticas desleais no setor, como a venda de combustíveis adulterados.
Entidades do setor de distribuição já sinalizam preocupação com o impacto da menor fiscalização na concorrência e segurança dos consumidores.
Levantamento Semanal de Preços de Combustíveis (LPC)
Redução amostral prejudica transparência
Outra medida anunciada pela ANP foi a redução da amostragem do LPC, que é responsável por coletar dados semanais sobre os preços dos combustíveis em todo o país. Essa pesquisa é essencial para o acompanhamento do mercado, subsidiando políticas públicas e fornecendo informações ao consumidor.
Com a redução amostral a partir do período de 16 a 21 de junho, a qualidade e a abrangência dos dados poderão ser afetadas, prejudicando a capacidade do governo e da sociedade de monitorar flutuações e eventuais abusos nos preços praticados.
Repercussão do setor e possíveis consequências
Reação das entidades do setor de combustíveis
Fontes do mercado informaram que entidades representativas dos distribuidores de combustíveis devem emitir uma nota conjunta repudiando os cortes na fiscalização. A expectativa é que a menor atuação da ANP favoreça práticas ilícitas e prejudique a concorrência justa entre os fornecedores.
Risco de aumento da concorrência desleal
Especialistas alertam que a ausência temporária do monitoramento de qualidade pode facilitar a entrada de combustíveis fora dos padrões técnicos, causando danos ambientais, aumento do desgaste dos veículos e risco à segurança dos consumidores.
A menor fiscalização também pode encorajar a concorrência desleal, prejudicando empresas que investem em combustíveis de qualidade e cumprimento rigoroso da legislação.
Medidas de contenção adotadas pela ANP
Cortes em viagens e eventos presenciais
Para minimizar os impactos financeiros, a ANP restringiu despesas com diárias e passagens aéreas, adotando o formato remoto para reuniões, audiências públicas e seminários.
Todos os contratos em vigência estão sendo revisados para identificar gastos que possam ser reduzidos sem comprometer a operação da agência.
Prioridade em ajustes orçamentários
A ANP busca estabelecer prioridades para garantir a continuidade de atividades essenciais dentro do novo orçamento limitado, embora reconheça que a redução já decretada limita severamente sua capacidade de fiscalização.
Contexto orçamentário e desafios do setor público
Pressões fiscais e cortes no orçamento federal
A restrição orçamentária da ANP está inserida em um cenário mais amplo de contenção de gastos no governo federal, que tem impactado diversos órgãos reguladores e de fiscalização. Esses cortes refletem dificuldades fiscais do país e limitações na alocação de recursos públicos.
Impactos a longo prazo na regulação do mercado de combustíveis
A diminuição da fiscalização pode comprometer a eficiência regulatória da ANP, causando impactos negativos no mercado de combustíveis, que é estratégico para a economia brasileira.
A qualidade dos produtos, a segurança do consumidor e a concorrência justa dependem do trabalho constante da agência.
Considerações finais
A suspensão do Programa de Monitoramento da Qualidade dos Combustíveis e a redução na pesquisa de preços representam um desafio significativo para o setor energético brasileiro.
A falta de verba afeta a capacidade da ANP de garantir a qualidade dos combustíveis e a transparência do mercado, abrindo espaço para riscos que podem atingir diretamente consumidores e empresas.
Enquanto o orçamento não é revisto, o mercado deverá conviver com um período de fiscalização reduzida, o que exige atenção redobrada dos órgãos de controle, empresas responsáveis e consumidores.
É fundamental que o governo avalie medidas para restaurar os recursos necessários à ANP, garantindo que a agência possa cumprir seu papel regulatório com eficiência e proteger o interesse público.
A população e o setor produtivo aguardam respostas para que a qualidade e a segurança dos combustíveis não sejam comprometidas por restrições orçamentárias.
A transparência, a fiscalização rigorosa e o equilíbrio da concorrência são pilares que sustentam um mercado saudável e confiável para todos.