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Importações de carros elétricos chineses disparam e preocupam setor

Importações de carros elétricos chineses disparam e preocupam montadoras e sindicatos no Brasil.

A rápida expansão de carros elétricos chineses no Brasil, liderada pela BYD e outras montadoras, acendeu a preocupação de fabricantes e sindicatos. Com navios gigantes atingindo portos como o de Itajaí transportando até 22 mil carros por embarque, cresce o receio de que a produção nacional e os empregos sejam prejudicados.

Pressionado por essa realidade, o setor pede ao governo que antecipe o aumento da alíquota de importação de elétricos de 10% para 35%, em vez de seguir a escalada gradual prevista até 2026.

Leia mais: BYD corta preços de carros elétricos e ações despencam: entenda o motivo!

A chegada que causou alarde

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Imagem: Freepik

O maior navio de transporte de automóveis do mundo atracou recentemente no porto de Itajaí (SC), trazendo um carregamento equivalente a 20 campos de futebol de carros, e nem todos celebraram o momento. A bordo, milhares de veículos da BYD, empresa chinesa que se tornou a maior fabricante global de veículos eletrificados.

Essa foi apenas a quarta remessa da BYD ao Brasil neste ano, totalizando cerca de 22 mil unidades. E os números não param por aí. Segundo estimativas do setor, as importações de veículos produzidos na China devem crescer quase 40% em 2025, alcançando 200 mil unidades, o que representaria cerca de 8% das vendas totais de carros leves no país.

Preocupações com o impacto na produção nacional

A ofensiva chinesa tem levantado preocupações sérias entre representantes da indústria automotiva brasileira e lideranças trabalhistas. Para eles, o volume crescente de carros importados pode comprometer a produção local e gerar impactos diretos no mercado de trabalho.

“Países do mundo todo começaram a fechar as portas para os chineses, mas o Brasil não o fez”, declarou Aroaldo da Silva, trabalhador da produção da Mercedes-Benz e presidente da IndustriALL Brasil, confederação de sindicatos de seis setores industriais. “A China se aproveitou disso.”

Tarifas em discussão

Uma das principais críticas diz respeito ao cenário tarifário. Hoje, os carros elétricos importados da China enfrentam uma taxa de 10%. Essa alíquota foi reinstaurada no ano passado, após um período sem impostos como incentivo à eletrificação da frota nacional. A atual política prevê uma elevação gradual, chegando a 35% apenas em meados de 2026.

Grupos industriais e sindicais pressionam o governo para que esse reajuste seja antecipado. Eles argumentam que a China está se beneficiando do intervalo de baixa tributação para inundar o mercado brasileiro com seus produtos,ao invés de investir em fábricas locais e na geração de empregos.

Produção local adiada

Embora a BYD tenha anunciado a construção de uma fábrica em Camaçari (BA), no antigo complexo da Ford, o início da produção foi adiado. Uma investigação envolvendo denúncias de abusos trabalhistas no canteiro de obras fez com que a previsão de operação plena fosse postergada para dezembro de 2026, segundo autoridades locais.

A GWM, outra montadora chinesa, também atrasou seu cronograma. A empresa havia planejado iniciar operações em uma unidade adquirida da Mercedes-Benz no interior paulista, mas ainda não conseguiu colocar a fábrica para funcionar. O governo espera que a produção comece ainda este ano.

Carros “verdes” em meio à controvérsia

Apesar do cenário controverso, os veículos elétricos chineses dominam o segmento ecológico no país. Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), mais de 80% dos carros elétricos vendidos no Brasil têm origem na China. A BYD lidera com folga esse movimento, impulsionada por uma frota cada vez maior de navios de carga dedicados a ampliar sua presença global.

A proposta de uma mobilidade mais limpa, no entanto, esbarra na ausência de uma cadeia produtiva nacional consolidada. Mesmo com o Brasil sendo rico em recursos minerais essenciais para a produção de baterias, como o lítio, ainda faltam infraestrutura e fornecedores locais capacitados.

Um mercado estratégico para a China

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Imagem: Freepik

A explosão de exportações de carros chineses tem uma razão clara: um excedente cada vez maior de veículos novos. O excesso de produção interna levou a China a buscar mercados externos agressivamente. Com isso, ultrapassou o Japão e se tornou o maior exportador de automóveis do mundo em 2023.

A escolha do Brasil como destino preferencial não é por acaso. O país é o sexto maior mercado automotivo do mundo em volume, além de manter tarifas mais brandas em comparação a mercados como Europa e Estados Unidos, que impuseram barreiras rígidas aos produtos chineses, chegando a taxas de até 100%.

Reação do setor e incertezas futuras

Embora as autoridades brasileiras tenham aplaudido o investimento chinês inicialmente, a demora na implantação das fábricas, somada ao aumento das importações, gera desconfiança. Igor Calvet, presidente da Anfavea, afirmou: “Apoiamos a chegada de novas marcas ao Brasil para produzir, promover o setor de componentes, criar empregos e trazer novas tecnologias. Mas, a partir do momento em que um excesso de importações causa um menor investimento em produção no Brasil, isso nos preocupa.”

Aroaldo da Silva foi ainda mais direto: “Mesmo que a fábrica esteja aqui – que valor ela realmente agrega se os componentes, o desenvolvimento e a tecnologia são todos estrangeiros?”

Com informações de: Reuters via InfoMoney