Criador da lei das bets defende proibição do uso do Bolsa Família para apostas
Entenda a proposta de José Francisco Manssur sobre a proibição do uso do Bolsa Família em apostas online e as implicações da regulamentação no setor
O cenário das apostas online no Brasil tem se tornado cada vez mais complexo, especialmente com a recente regulamentação trazida pela Lei das Bets. José Francisco Manssur, advogado e um dos responsáveis pela criação dessa lei, se posiciona fortemente contra o uso do Bolsa Família em sites de apostas. A seguir, discutiremos suas afirmações e as implicações de sua proposta.
A Lei das Bets foi criada com o intuito de regulamentar o setor de apostas esportivas no Brasil. Após a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o governo do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acelerou a implementação da lei, que visava controlar um mercado que, até então, operava à margem da legalidade.
Manssur, que fez parte da equipe que elaborou a legislação, argumenta que a regulamentação é fundamental para a proteção dos consumidores e a arrecadação de impostos.
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A Influência do Bolsa Família nas Apostas
Em um estudo recente divulgado pelo Banco Central, foi constatado que beneficiários do Bolsa Família gastaram cerca de R$ 3 bilhões em apostas online em agosto de 2023. Este dado alarmou o governo e gerou discussões sobre a ética do uso de dinheiro público em jogos de azar. Manssur defende que é imprescindível proibir imediatamente a utilização desses recursos em sites de apostas.

Propostas de Manssur
Proibição do Uso do Bolsa Família
Manssur afirma que a proibição do uso do Bolsa Família em apostas ajudaria a evitar a transferência de recursos públicos para um setor que pode ser prejudicial para pessoas em situação vulnerável.
Segundo ele, o governo deveria implementar um cruzamento de dados entre o cadastro do Bolsa Família e os registros de usuários de sites de apostas, utilizando o CPF para bloquear transações quando necessário.
Medidas Reeducativas
Além da proibição imediata, Manssur sugere que o governo desenvolva campanhas educativas para mudar a percepção dos beneficiários sobre as apostas. Ele ressalta que as empresas de apostas têm promovido uma imagem enganosa, associando o ato de apostar à possibilidade de enriquecer rapidamente.
“Enquanto não conseguimos trabalhar com toda a massa de beneficiários do Bolsa Família para que eles não tenham essa impressão equivocada, eu faria a proibição”, afirma Manssur.
A Regulação das Apostas no Brasil
Papel do Governo
O governo brasileiro, segundo Manssur, deve adotar uma postura mais rigorosa em relação ao controle dos sites de apostas. Ele acredita que a fiscalização eficaz é crucial para o sucesso da regulamentação. “Quanto mais rígido o governo for no trabalho de impedir os sites ilegais de atuarem no Brasil, mais resultado vai ter na regulação”, afirma.
Entrada de Empresas Estrangeiras
A regulamentação também abriu portas para a entrada de empresas estrangeiras no mercado brasileiro. Manssur menciona que várias companhias americanas estão interessadas em operar no Brasil, atraídas pelo potencial do mercado.
De acordo com dados do Goldman Sachs, o mercado de apostas esportivas nos Estados Unidos movimenta cerca de US$ 10 bilhões por ano, com uma base de consumidores robusta.
O Estudo do Banco Central
Críticas à Metodologia
Manssur critica o estudo do Banco Central que apontou gastos exorbitantes de beneficiários do Bolsa Família em apostas. Ele considera que a análise foi “bastante superficial” e não distinguiu adequadamente entre o dinheiro apostado e o que permanece na conta do apostador. “O BC se sentiu obrigado a responder à pressão da opinião pública e a um senador”, argumenta.
Reação do Setor
A reação ao estudo do Banco Central não foi unânime. O Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), que representa várias empresas do setor, contestou os números apresentados, sugerindo que o gasto real seria cerca de R$ 210 milhões.
Manssur acredita que os dados do IBJR estão mais próximos da realidade, embora ressalte que o estudo não contemplou todos os operadores do mercado.
Implicações para o Futuro das Apostas no Brasil
Desafios e Oportunidades
O futuro das apostas no Brasil apresenta tanto desafios quanto oportunidades. A entrada de empresas estrangeiras pode trazer melhorias em termos de governança e responsabilidade social. Com a presença de companhias que operam sob rigorosas regulamentações internacionais, espera-se que as práticas de mercado se tornem mais transparentes.
A Necessidade de Acompanhamento
Manssur enfatiza a importância de um acompanhamento contínuo das práticas de apostas, não apenas para proteger os consumidores, mas também para garantir que os benefícios sociais não sejam comprometidos. “É fundamental que o governo esteja atento e que haja uma interação entre as diversas esferas de controle”, finaliza.

Considerações Finais
José Francisco Manssur, como um dos arquitetos da Lei das Bets, apresenta uma visão crítica sobre o uso do Bolsa Família em sites de apostas. Sua proposta de proibição e as sugestões de medidas reeducativas refletem uma preocupação legítima com a vulnerabilidade dos beneficiários do programa.
O Brasil agora enfrenta o desafio de regular um mercado promissor, mas que requer atenção especial para proteger os cidadãos mais necessitados.
Com a entrada de empresas estrangeiras e a regulamentação em andamento, o setor de apostas no Brasil pode estar em um ponto de inflexão. Contudo, será crucial garantir que as medidas adotadas não apenas promovam o crescimento econômico, mas também a responsabilidade social e a proteção dos mais vulneráveis.
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