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Ansiedade, depressão e medicamentos: veja qual geração está no topo do consumo

Ansiedade e depressão crescem entre jovens. Veja o que está por trás do uso elevado de medicamentos antidepressivos.

A saúde mental entrou definitivamente no centro das discussões sobre qualidade de vida e ambiente de trabalho no Brasil.

Um levantamento recente da Vidalink, empresa especializada em bem-estar corporativo, aponta que os jovens da geração Z, nascidos entre 1997 e 2012, lideram o crescimento no uso de medicamentos voltados à saúde mental, como antidepressivos e ansiolíticos.

O estudo analisou mais de 273 mil unidades de medicamentos consumidos por cerca de 59 mil colaboradores em 165 empresas.

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Geração Z e Millennials: os mais medicados

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Imagem: Freepik

Crescimento acelerado entre os mais jovens

Os dados mostram que a geração Z apresentou o maior crescimento proporcional em 2024: aumento de 7,9% no número de usuários de medicamentos e de 6,6% no volume total consumido. Já os Millennials (nascidos entre 1982 e 1996) registraram alta de 6,8% em usuários e 5,6% nas unidades consumidas.

Esse comportamento contrasta com a tendência das gerações anteriores. A geração X (1965 a 1980) teve uma redução de 3% no número de usuários e 3,8% no volume de medicamentos. Entre os Baby Boomers (1946 a 1964), as quedas foram de 5% e 3,9%, respectivamente.

Saúde mental em pauta nas empresas

Segundo Luis Gonzalez, CEO da Vidalink, o aumento entre os mais jovens está diretamente relacionado a fatores como:

  • Isolamento social intensificado pela pandemia;
  • Insegurança profissional e econômica;
  • Fadiga mental causada pelo excesso de estímulos digitais;
  • Abertura maior para falar sobre saúde mental e buscar ajuda.

“O aumento reflete também uma mudança positiva: mais jovens estão se sentindo confortáveis para buscar tratamento e falar abertamente sobre seus transtornos”, afirma Gonzalez.

Mulheres Millennials: uma geração em sobrecarga

Dupla jornada e seus impactos

Apesar do crescimento acelerado entre os Zs, os Millennials continuam liderando em números absolutos o consumo de medicamentos psiquiátricos. E dentro desse grupo, o destaque está nas mulheres.

Segundo o levantamento da Vidalink, 44% das mulheres Millennials enfrentam uma sobrecarga diária, dividindo seu tempo entre o trabalho, os cuidados com a casa, filhos e, em muitos casos, com familiares idosos. Essa rotina exaustiva é conhecida como “dupla jornada”.

Dados alarmantes sobre saúde mental feminina

O impacto dessa sobrecarga é visível nos dados:

  • As mulheres são 79% mais propensas que os homens a utilizarem medicamentos para saúde mental;
  • Em 2024, o consumo cresceu 2,5 vezes mais entre as mulheres do que entre os homens;
  • De acordo com o Ministério da Previdência Social, 64% dos afastamentos por transtornos mentais são de mulheres, com média de idade de 41 anos.

Especialistas em saúde mental apontam que o desequilíbrio entre as responsabilidades pessoais e profissionais, aliado à pressão estética, emocional e social enfrentada pelas mulheres, torna esse grupo especialmente vulnerável ao estresse, ansiedade, depressão e burnout.

Causas estruturais no ambiente de trabalho

Ambientes tóxicos e pouca rede de apoio

Embora haja uma maior conscientização sobre o tema da saúde mental nas empresas, o avanço no uso de medicamentos também revela um cenário preocupante. O ambiente corporativo, segundo Gonzalez, ainda é, em muitos casos, hostil e pouco acolhedor.

Entre os principais gatilhos identificados estão:

  • Assédio moral e sexual;
  • Excesso de metas e jornadas prolongadas;
  • Falta de reconhecimento;
  • Ausência de políticas de saúde mental eficazes.

“O aumento da medicalização é um alerta. Ele mostra que as pessoas estão buscando tratamento, mas também que os problemas estruturais continuam presentes”, afirma o executivo.

Saúde mental como prioridade estratégica

Segundo especialistas em recursos humanos e psicologia organizacional, tratar a saúde mental como um tema estratégico é essencial para reverter esse cenário. Ações que podem ser adotadas incluem:

  • Implantação de programas de apoio psicológico;
  • Treinamento de lideranças para gestão empática;
  • Políticas de equilíbrio entre vida pessoal e profissional;
  • Flexibilização da jornada de trabalho.

Geração que fala e cuida da mente

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Imagem: Freepik

Quebra de tabus e protagonismo na busca por ajuda

A geração Z é reconhecida por romper com antigos estigmas relacionados à saúde mental. Pesquisas indicam que esses jovens estão mais dispostos a conversar sobre suas emoções, procurar terapia e exigir ambientes saudáveis.

Eles também são mais ativos em denunciar práticas abusivas e cobrar ações concretas por parte das empresas. Essa postura ajuda a fomentar mudanças culturais mais profundas, embora o caminho ainda seja longo.

Tendência de crescimento no uso de medicamentos

Gonzalez acredita que o número de profissionais medicados deve continuar crescendo no curto e médio prazo, à medida que mais pessoas recebem diagnóstico e iniciam tratamento. No entanto, ele alerta para o risco da medicalização como única resposta.

“O ideal é que os medicamentos sejam parte de um plano de tratamento mais amplo, que envolva acompanhamento psicológico, mudanças no estilo de vida e, principalmente, melhorias nas condições de trabalho”, completa.

Desafios e caminhos para o futuro

Diagnóstico precoce e suporte contínuo

A ampliação do acesso a diagnósticos e tratamentos é fundamental, especialmente nas camadas mais jovens da população economicamente ativa. As empresas, por sua vez, precisam assumir um papel mais ativo na construção de um ambiente mentalmente saudável.

Investimentos em prevenção, campanhas de conscientização e acolhimento podem ajudar a reduzir o número de casos graves, afastamentos e a dependência de medicamentos.

Geração Z como motor de transformação

A mesma geração que mais consome medicamentos hoje também pode ser a responsável por redesenhar a cultura corporativa do futuro.

Com uma visão mais inclusiva e sensível às questões emocionais, os jovens trabalhadores exigem mudanças – e estão dispostos a deixar ambientes tóxicos para encontrar locais mais saudáveis.

Esse movimento tende a impactar o mercado de trabalho como um todo, pressionando empresas a repensarem suas práticas e a adotarem políticas de saúde mental mais efetivas.

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