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Após ataque hacker ao Banco Central, governo posterga plano para rastrear criptoativos

O Governo Federal anunciou nesta segunda-feira que o pregão eletrônico nº 90019/2025, voltado à contratação de software de rastreamento de transações com criptoativos, foi adiado para 9 de julho — uma semana depois do previsto. O edital havia sido lançado em junho pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), ligada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública.

O objetivo é contratar um sistema especializado para localizar, rastrear e analisar transações em blockchains, com funcionalidades como correlação de carteiras, geolocalização de IPs e monitoramento em tempo real, válido por 36 meses, incluindo treinamento e suporte técnico.

O adiantamento decorre do episódio de invasão hacker à infraestrutura do Banco Central (BC), que expôs fragilidades no sistema de pagamentos e potencializou a urgência na adoção de ferramentas robustas de rastreamento.

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O que se sabe sobre o ataque ao Banco Central

Como ocorreu o ataque

Na madrugada de 30 de junho, um grupo de hackers acessou contas reservas do Banco Central por meio de uma falha na plataforma da C&M Software, fornecedora de serviços de conexão entre bancos e o BC. Entre os alvos estava o banco BMP, que teve cerca de R$ 541 milhões desviados via o sistema PIX.

Lavagem via criptomoedas

O estudo realizado por especialistas identificou que os criminosos converteram entre US$ 30 milhões e US$ 40 milhões em criptoativos como Bitcoin (BTC), Ethereum (ETH) e Tether (USDT), empregando exchanges e fintechs para lavagem de dinheiro.

Prisão de suspeito

Na sexta-feira, dia 4 de julho, João Nazareno Roque foi detido pela Polícia Civil. Ele é suspeito de vender credenciais por cerca de R$ 15 mil e atuar como “fantoche” dentro da operação.

Suspensão de instituições envolvidas

O Banco Central bloqueou seis instituições (como Transfeera, Soffy e Nuoro Pay) do sistema Pix por até 60 dias, até que prestem esclarecimentos às investigações.

Relação entre o ataque e o adiamento da licitação

ZKsync
Imagens: ViChizh / Shutterstock.com e r.classen / Shutterstock.com – Edição: Seu Crédito Digital

Embora não exista ligação oficial entre o ataque e a licitação, o incidente elevou o nível de preocupação do governo com a segurança do ecossistema cripto. O adiamento reflete o esforço para:

  • Avaliar e reforçar requisitos técnicos do edital;
  • Ajustar os processos de credenciamento;
  • Garantir que o sistema contratado possa prevenir ataques similares.

O momento serve como alerta para a adoção de blockchain analytics em nível federal.

O que o edital prevê e quem poderá usar a solução

Beneficiários da compra

O software deve ser utilizado por:

  • Polícia Federal;
  • Centros de investigação estaduais;
  • Peritos judiciais e agentes da SENASP.

A previsão inclui treinamentos presenciais (hands-on) e distribuição inicial em 15 capitais — com destaque para Brasília e Curitiba — excluindo, por ora, São Paulo e Rio de Janeiro.

Funcionalidades exigidas

  • Monitoramento de redes como Bitcoin, Ethereum, XRP, BNB, Dogecoin, Tron, Polygon, Avalanche, entre outras;
  • Mapeamento de correlação entre endereços e geolocalização;
  • Reconhecimento de técnicas de ofuscação, como peel chains;
  • Suporte técnico, atualizações e capacitação por 36 meses.

Importância para o combate ao crime financeiro

Ferramenta-chave contra fraudes e lavagem

Esse sistema fortalece a capacidade de órgãos públicos para:

  • Identificar redes de dissimulação de valores;
  • Rastrear recursos desviados em tempo real;
  • Facilitar cooperação entre autoridades brasileiras e internacionais.

Harmonização regulatória

Opera em consonância com o Marco Legal dos Criptoativos, a MP 1.303/2025 e iniciativas do COAF e Receita Federal, consolidando uma abordagem regulatória integrada.

Questões e preocupações levantadas

Privacidade vs. segurança

Especialistas alertam para o risco de falsos positivos e vigilância excessiva, especialmente pelo uso de blockchain scanners sem avaliação humana apurada.

Capacidade técnica dos operadores

Críticos questionam se agentes públicos terão treinamento adequado para analisar dados complexos, capaz de diferenciar transações legítimas de suspeitas reais .

Inclinação judicial

A interpretação incorreta desses dados pode gerar bloqueios indevidos, dificuldades legais e questionamentos sobre o devido processo.

“Big Brother financeiro” ou instrumento eficaz?

Benefícios

  • Rastreio em tempo real de desvios e lavagem;
  • Resposta rápida a incidentes;
  • Melhora de cooperação internacional;
  • Aumento da eficácia investigativa.

Riscos sociais

  • Impacto na privacidade, sobretudo de usuários comuns;
  • Potencial uso abusivo por governos;
  • Necessidade de limites e garantias legais para evitar excessos.

Próximos passos e cronograma

  1. 9 de julho: nova data para recebimento de propostas no ComprasNet;
  2. Análise técnica e habilitação das empresas participantes;
  3. Implementação piloto nas 15 capitais selecionadas;
  4. Treinamento de agentes (PF, perícia, SENASP);
  5. Monitoração contínua e ajustes conforme demanda.

Considerações finais

Criptomoedas
Imagem: Freepik

O adiamento do pregão eletrônico surge como uma resposta à alarmante falha de segurança no BC. O momento reforça a urgência de elevar o nível de rastreamento e proteção no ambiente cripto. A futura contratação representa um passo sólido rumo ao fortalecimento institucional contra crimes digitais, mas impõe dilemas sobre privacidade e competência técnica.

Enquanto espera-se por avanços no edital, o ponto central permanece: o equilíbrio entre segurança e direitos civis dependerá da forma como o Estado irá operar essa nova ferramenta — e disso depende seu sucesso.