Seu Crédito Digital
O Seu Crédito Digital é um portal de conteúdo em finanças, com atualizações sobre crédito, cartões de crédito, bancos e fintechs.

MP eleva CSLL e B3 será uma das mais afetadas, aponta Itaú BBA

A Medida Provisória nº 1.303, publicada na noite de quarta-feira (12), promete provocar mudanças estruturais na tributação de instituições financeiras não bancárias, com impacto direto sobre empresas como B3 (B3SA3), Nubank, PagSeguro e Stone. De acordo com análise inicial do Itaú BBA, o principal efeito será o aumento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), medida que pode resultar em uma queda de até 7% no lucro da B3, uma das mais afetadas.

Além disso, a MP traz alterações relevantes na tributação de investimentos de pessoas físicas, criando novas alíquotas de Imposto de Renda sobre produtos antes isentos, como LCIs, LCAs, CRIs, CRAs e debêntures incentivadas. Também estabelece mudanças nas regras do Juros sobre Capital Próprio (JCP).

Leia mais:

Previsão do tempo em Florianópolis: mínima de 12°C e máxima de 22°C nesta sexta (13)

Itaú BBA
Imagem: Reprodução

Por que a MP 1.303 foi editada?

A motivação central para a edição da MP 1.303 foi a compensação da perda de arrecadação com a revogação de um decreto anterior que elevava o IOF sobre operações de crédito. Para manter o equilíbrio fiscal, o governo optou por aumentar a carga tributária de instituições que até então desfrutavam de alíquotas menores de CSLL, reduzindo o que o governo considera assimetria tributária em relação aos grandes bancos.

O que muda com a nova MP?

Segundo o Itaú BBA, a medida aumenta a alíquota da CSLL para instituições de pagamento (IPs), sociedades de crédito direto e sociedades de empréstimo entre pessoas, conhecidas como SCFIs (Sociedades de Crédito entre Pessoas). Também passam a recolher mais as bolsas de valores, incluindo a B3, que antes tinha um regime tributário mais favorecido em comparação aos bancos.

Novas alíquotas de CSLL:

InstituiçãoAlíquota anteriorNova alíquota
Instituições de pagamento (IP)9% a 15%15% a 20%
Sociedades de crédito (SCFI)9% a 15%15% a 20%
Bolsas de valores (como a B3)15%20%
Bancos e seguradoras20% (sem mudança)20%

Segundo os analistas Pedro Leduc e equipe, bancos tradicionais não serão afetados diretamente, mas podem sofrer impactos indiretos em suas subsidiárias IP e SCFI, que agora pagarão mais tributos.

Impactos estimados no lucro das empresas

Os especialistas do Itaú BBA estimaram, com base em premissas constantes, o impacto direto no lucro de algumas das principais instituições afetadas pela medida:

  • B3: -7% no lucro estimado
  • Nubank: -6%
  • PagSeguro: -4%
  • Stone: -3%

A B3 deve sentir o maior impacto por ser uma bolsa de valores com modelo de negócios intensamente baseado em volume de transações e serviços correlatos, com margem de lucro elevada. O aumento da CSLL reduz diretamente essa margem.

empresas como XP (XPBR31) e BTG Pactual (BPAC11) devem sentir impactos mínimos, uma vez que possuem estrutura bancária local consolidada ou operam através de estruturas offshore, o que lhes confere maior flexibilidade tributária.

Tributação de investimentos de pessoas físicas

A MP 1.303 também inova ao modificar a tributação de rendimentos financeiros de pessoas físicas, impactando diretamente milhões de investidores no país.

Mudança na alíquota do IR sobre investimentos:

Antes, havia um sistema de alíquotas regressivas de 22,5% a 15%, dependendo do prazo da aplicação. Com a nova proposta, a tributação passará a ser fixa em 17,5%, independentemente do tempo de aplicação.

Essa mudança elimina o incentivo à manutenção de investimentos por prazos mais longos, o que pode afetar o comportamento de investidores conservadores.

Novas alíquotas sobre produtos isentos:

Um dos pontos mais sensíveis da MP é o fim da isenção fiscal para diversos ativos populares entre investidores conservadores:

AtivoSituação atualCom a MP 1.303
LCI (Letra de Crédito Imobiliário)Isento5% IR
LCA (Letra de Crédito do Agronegócio)Isento5% IR
CRI/CRA (Certificados de Recebíveis)Isento5% IR
Debêntures incentivadasIsento5% IR

A justificativa do governo é que essas isenções reduzem a base tributária, e sua eliminação pode trazer mais equidade fiscal ao sistema. No entanto, o mercado teme que a perda de atratividade desses ativos prejudique o financiamento de setores estratégicos, como habitação e agronegócio.

JCP também terá nova alíquota

dividendos
Imagem: Freepik e Canva

Outra alteração relevante é a elevação da alíquota de IR sobre os Juros sobre Capital Próprio (JCP) pagos a pessoas físicas: de 15% para 20%. Isso pode gerar mudanças na política de distribuição de lucros de grandes empresas listadas na bolsa.

Reação do mercado

O impacto da MP sobre a bolsa foi sentido de forma imediata. As ações da B3SA3, por exemplo, apresentaram recuo nas primeiras horas de negociação após a publicação da medida. O mercado teme que a combinação de maior carga tributária e redução da atratividade dos investimentos isentos possa gerar uma desaceleração na atividade de negociação e emissão de títulos.

Análise dos especialistas

O Itaú BBA destacou que o texto ainda pode sofrer alterações durante a tramitação no Congresso Nacional, uma vez que medidas provisórias têm validade inicial de 60 dias, prorrogáveis por mais 60, mas necessitam de aprovação em definitivo para se tornarem leis.

A equipe também ressalta que a redução dos aumentos previstos para o IOF sobre operações de crédito é um ponto positivo, já que contribui para manter o fluxo de crédito para empresas e famílias em um momento de juros ainda elevados.

Efeitos esperados a médio e longo prazo

PicPay fintech
Imagem: Wright Studio / shutterstock.com

Para fintechs e instituições de pagamento

O aumento da CSLL nivela o jogo entre bancos tradicionais e instituições não bancárias, o que pode pressionar a margem de lucro de fintechs que já operam em um ambiente competitivo e de alta regulação.

Para investidores pessoas físicas

A mudança nas regras de isenção e na alíquota de IR pode desestimular investimentos de longo prazo, principalmente em ativos ligados a setores estratégicos como habitação e agronegócio. Isso pode forçar uma readequação das carteiras e favorecer produtos mais líquidos, como fundos de renda fixa simples ou CDBs.

Para o Tesouro Nacional

A expectativa do governo é que a MP 1.303 resulte em aumento da arrecadação sem afetar diretamente os bancos, o que alivia o impacto político. No entanto, a medida pode encontrar resistência no Congresso, especialmente por conta da mudança nas regras de investimentos populares entre a classe média.

Imagem: Piotr Swat | shutterstock