Relatório de Trump pode oficializar reserva nacional de Bitcoin com ativos apreendidos
A força‑tarefa presidencial criada por Donald Trump para revisar a política de ativos digitais concluiu seu mandato de 180 dias e deve publicar seu relatório final em 30 de julho de 2025.
Instituído por ordem executiva em março, o grupo — que reúne lideranças do Tesouro, SEC, CFTC, Departamento de Justiça e outras agências — terá como destaque a recomendação de transformar criptomoedas apreendidas em uma reserva estratégica nacional, sem utilizar recursos públicos.
Bo Hines, executivo da força‑tarefa, afirmou que “os Estados Unidos agora lideram o caminho na política de ativos digitais”. Com as leis GENIUS e CLARITY já em vigor, o relatório deve consolidar diretrizes para supervisionar stablecoins, classificação de tokens, tributação, integridade de mercado e execução regulatória.
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Execução da ordem executiva e formação da reserva
Em 6 de março de 2025, o presidente Donald Trump assinou uma ordem executiva para criar o Strategic Bitcoin Reserve e o Digital Asset Stockpile, financiados exclusivamente com criptomoedas apreendidas em processos criminais ou civis.
Segundo o texto, não serão usados fundos dos contribuintes, e nenhuma venda dos ativos será permitida, a menos que legislações futuras autorizem.
Além disso, foi determinada a contabilização completa dos criptoativos federais, consolidando ativos dispersos entre diferentes agências.
Papel do grupo de trabalho e personalidade-chave
O grupo é liderado pelo conselheiro de IA e cripto da Casa Branca, David Sacks, com coordenação de Bo Hines. Ele examinará a viabilidade de expandir a reserva nacional usando ativos custodiados, explorando formas de capitalização neutra ao orçamento federal.
O plano é transformá-lo numa espécie de Fort Knox digital, conforme descrito por Sacks durante a Cúpula de Ativos Digitais na Casa Branca em março.
Reserva nacional de Bitcoin: fundamentos e implicações estratégicas
Construindo uma reserva sem onerar os contribuintes
Especialistas como Monica Jasuja afirmam que o relatório deve sugerir formas de consolidar a reserva nacional de Bitcoin utilizando os ativos apreendidos pelo governo, evitando comprar criptomoedas no mercado com dinheiro público. Isso significa manter liquidez institucional sem interferir na dinâmica dos preços de mercado.
A proposta está alinhada com princípios de neutralidade orçamentária, uma diretriz central da ordem executiva.
Outras criptomoedas envolvidas
Embora o foco principal seja o Bitcoin, o plano prevê também um Digital Asset Stockpile para outras criptomoedas apreendidas, como Ethereum, XRP, Solana e Cardano. A reserva estratégica busca dar ao governo base de criptoativos diversificada, mas sem expansão além dos ativos confiscados.
Marco regulatório paralelo: GENIUS e CLARITY Acts fortalecem infraestrutura legal
Leis que moldam o ambiente cripto nos EUA
Durante a chamada “Crypto Week”, o Congresso aprovou o GENIUS Act, que estabelece normas para stablecoins atreladas ao dólar, exigindo lastro integral convertido em ativos de baixo risco e auditoria pública.
Outros projetos, como o CLARITY Act, que reforça reguladores como a CFTC, e o Anti‑CBDC Surveillance State Act, que proíbe criação de moeda digital pelo Fed, avançam no legislativo.
Esses marcos oferecem o suporte regulatório necessário para transformar a reserva nacional em ativo institucional legítimo.
Reações da indústria e críticas ao plano
Otimismo institucional
Líderes do setor saudaram a decisão como um avanço institucional significativo, que legitima o status do Bitcoin como ativo estratégico nacional. O summit e as medidas regulatórias foram vistos como um catalisador para adoção institucional mais ampla.
Ceticismo e alertas de conflito de interesse
Críticos, como Joe Lonsdale e Gabor Gurbacs, questionam a coerência de um governo acumular grandes quantidades de um ativo descentralizado, além de apontar riscos de uso indevido de informações privilegiadas. Há preocupações com transparência e governança.
O que esperar do relatório final em 30 de julho?
Principais temas em pauta
- Consolidação das diretrizes para constituição da reserva nacional com criptomoedas apreendidas;
- Detalhamento de mecanismos orçamentariamente neutros para possíveis aquisições adicionais;
- Propostas legislativas relacionadas à expansão da reserva, incluindo possíveis compras futuras com base em projetos como o introduzido por Cynthia Lummis.
Potenciais impactos
- Reforça o papel dos EUA como pioneiro na adoção soberana de criptoativos;
- Amplia segurança jurídica, transparência e governança em torno dos ativos confiscados;
- Pode desencadear reações globais semelhantes, como reservas estatais em outros países.
Riscos e cenários futuros
Possíveis obstruções legais e regulatórias
Alguns especialistas apontam para riscos legais: sem legislação complementar, a expansão da reserva pode ser contestada no Congresso ou tribunal. A atuação coordenada entre SEC, CFTC e FDIC será determinante.
Questões de governança e narrativa pública
Falta de transparência sobre movimentação dos ativos e eventual influência política levanta críticas de falta de responsabilidade pública. A ausência de registro público centralizado ainda preocupa stakeholders.
Conclusão: relatório conclui janela de 180 dias com alto potencial estratégico
O próximo relatório da força‑tarefa presidencial marca uma virada na política oficial dos EUA sobre criptomoedas. Se adotar a proposta de estabelecer uma reserva estratégica nacional de Bitcoin com ativos apreendidos, sem custo aos contribuintes, os EUA avançarão como líder global em política cripto estatal.
Esse movimento ocorre em paralelo a uma regulação robusta (GENIUS, CLARITY) e a ambição declarada de transformar o país na “capital mundial das criptomoedas”. O relatório poderá consolidar diretrizes duradouras para a forma como o governo gerencia, expande e legitima ativos digitais.
A atenção agora se volta para 30 de julho, quando as recomendações serão divulgadas. O documento poderá estabelecer bases legais e institucionais para que o Bitcoin — e possivelmente outras criptomoedas — sejam tratados como ativos estratégicos ao lado de ouro e petróleo, redefinindo o papel do Estado na economia digital.