Sequestro de investidor de Bitcoin expõe nova onda de crimes violentos ligados a criptoativos nos EUA
O submundo dos crimes ligados a criptomoedas ganhou mais um capítulo sombrio com o caso de sequestro, tortura e extorsão de um investidor de Bitcoin em Nova York.
Em uma reviravolta polêmica, os dois principais acusados, William Duplessie e John Woeltz, se declararam inocentes diante da Justiça, alegando que a suposta vítima agiu de forma voluntária e estava, inclusive, “rindo” durante o período em que afirmou ter sido mantida em cativeiro.
O caso, que envolve alegações de violência física, tortura, tentativa de roubo de criptomoedas e possível existência de outras vítimas, está mobilizando tanto autoridades quanto a comunidade cripto, que observa com preocupação o aumento dos chamados “wrench attacks” — agressões físicas com o objetivo de roubar ativos digitais.
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A acusação: Bitcoin, violência e tortura em Manhattan
De acordo com os promotores de Nova York, a vítima — cuja identidade está sendo mantida em sigilo — teria sido sequestrada por Duplessie e Woeltz em Manhattan, onde foi mantida sob cárcere privado, agredida fisicamente, eletrocutada e ameaçada de morte, enquanto os acusados tentavam obter acesso à sua carteira de criptomoedas.
O caso veio à tona após a suposta vítima conseguir escapar do local onde estava sendo mantida, no final de maio. Segundo relatos à imprensa e documentos judiciais, a vítima foi encontrada pela polícia visivelmente abalada e com sinais de agressão.
Provas encontradas
Durante as investigações, a polícia encontrou uma motosserra, uma pistola carregada e imagens perturbadoras da vítima sendo ameaçada com armas, e em uma das fotos, em chamas, supostamente apagadas pelos sequestradores com urina. Apesar disso, nenhuma queimadura visível foi constatada no momento do resgate.
A promotora assistente Sarah Khan destacou que as provas visuais foram “decisivas para sustentar a versão da vítima”, e que existe possibilidade de outras vítimas envolvidas em ações semelhantes conduzidas pelos réus.
A defesa: “Vítima estava sorrindo, usando drogas e circulando livremente”
Em uma audiência ocorrida na quarta-feira, 11 de junho, os advogados de defesa de Duplessie e Woeltz afirmaram que a narrativa apresentada pelo acusador “não faz sentido”. O advogado Sam Talkin, representante de William Duplessie, afirmou que existem vídeos que mostram a vítima “sorrindo, consumindo crack e participando de orgias” durante o período em que alegava estar sequestrada.
Já o advogado de John Woeltz acrescentou que testemunhas oculares viram a suposta vítima circulando livremente por Nova York, o que, segundo ele, desmontaria a acusação de cárcere privado.
“A versão da vítima é incoerente e contraditória com o que mostram os vídeos. Ele estava claramente em liberdade”, afirmou Talkin diante do juiz.
Narrativa alternativa
Os advogados alegam que os vídeos foram gravados pela própria vítima e liberados posteriormente para “fabricar um cenário de sequestro”. A promotoria, por outro lado, rebateu afirmando que as imagens foram divulgadas com o objetivo de distorcer a realidade e criar dúvidas sobre o estado de vulnerabilidade da vítima.
Elementos inquietantes do caso: fogo, armas e possíveis novas vítimas
Entre os elementos mais impactantes do processo está a alegação de que a vítima foi incendiada durante as sessões de tortura. Apesar de não apresentar marcas visíveis de queimadura, há registros de que o fogo teria sido rapidamente apagado com urina, segundo fontes ligadas à investigação. As imagens, embora não divulgadas publicamente, estariam em posse da promotoria.
Evidências físicas
Além disso, os investigadores encontraram no local do crime instrumentos de tortura, como a motosserra e a pistola carregada, que reforçam a hipótese de que a vítima foi violentamente coagida a entregar informações confidenciais, como senhas de acesso a sua carteira de Bitcoin.
Outras possíveis vítimas
As autoridades também estão investigando indícios de que Duplessie e Woeltz teriam praticado atos semelhantes contra outras pessoas, possivelmente em diferentes locais de Nova York.
Caso se confirme, a dupla poderá enfrentar várias acusações de sequestro e tortura, o que aumentaria ainda mais as chances de prisão perpétua, já prevista para o caso atual.
Contexto crescente: violência contra investidores de criptomoedas
O termo “wrench attack” (ou “ataque com chave inglesa”, em tradução literal) surgiu na comunidade cripto para descrever casos de violência física contra detentores de ativos digitais, visando forçá-los a entregar senhas ou transferir seus fundos.
Ao contrário de ataques cibernéticos, os wrench attacks envolvem coerção física direta, como sequestros, ameaças com armas e tortura, tornando-os especialmente difíceis de prevenir.
Dados alarmantes de 2025
De acordo com bancos de dados especializados em crimes cripto, 2025 já registrou quase tantos casos de wrench attacks quanto todo o ano de 2024, sinalizando uma escalada preocupante desses crimes.
Casos recentes incluem o sequestro de familiares de executivos de exchanges, como o CEO da Ledger, David Balland, e o fundador da Paymium, Pierre Noizat, cujos parentes foram vítimas de tentativas de extorsão relacionadas a criptoativos.
Justiça e consequências: fiança negada e possibilidade de prisão perpétua
Duplessie e Woeltz foram formalmente acusados de sequestro em primeiro grau, agressão agravada, porte ilegal de arma e tentativa de extorsão. Se condenados, ambos podem receber a pena máxima de prisão perpétua, dada a gravidade das alegações.
Além disso, uma terceira pessoa chegou a ser detida por suspeita de envolvimento no esquema, mas foi posteriormente liberada por falta de provas concretas até o momento.
Fiança negada
O juiz responsável pelo caso optou por negar fiança aos acusados, citando risco de fuga e ameaça à segurança pública, o que reforça a seriedade com que o sistema judicial norte-americano está tratando crimes envolvendo criptoativos.
A próxima audiência foi marcada para 15 de julho, e deverá contar com novos depoimentos e, possivelmente, apresentação de mais provas por parte da promotoria.
Segurança digital e física: um alerta à comunidade cripto
O caso de Nova York serve como alerta contundente para investidores de criptomoedas, especialmente aqueles que operam com grandes volumes. Diferente de instituições financeiras tradicionais, ativos como Bitcoin são irreversíveis e autocustodiáveis, o que os torna alvo de criminosos que buscam acesso forçado às chaves privadas.
Precauções recomendadas
Especialistas recomendam que detentores de criptomoedas adotem medidas adicionais de segurança:
- Uso de carteiras frias (cold wallets), mantidas offline;
- Separação de fundos em várias carteiras;
- Evitar divulgar publicamente o volume de criptoativos que possui;
- Implementar mecanismos de multisig (assinaturas múltiplas);
- Jamais guardar senhas ou frases-semente em locais de fácil acesso.
Considerações finais: o preço da liberdade financeira
A proposta das criptomoedas sempre foi empoderar indivíduos por meio da autonomia financeira e da eliminação de intermediários. No entanto, essa liberdade também vem com um novo tipo de responsabilidade: a autodefesa contra ameaças físicas.
O caso envolvendo William Duplessie e John Woeltz não é apenas um crime isolado, mas sim um retrato de como a descentralização do dinheiro exige uma nova cultura de segurança pessoal e digital.
À medida que o Bitcoin e outros ativos ganham popularidade, é provável que mais indivíduos se tornem alvos — não apenas de hackers, mas também de criminosos dispostos a usar a força bruta para roubar aquilo que não podem acessar por vias digitais.