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Tarifaço ameaça equilíbrio do mercado interno brasileiro, diz ministro

O anúncio de um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, feito pelo presidente norte-americano Donald Trump, causou forte repercussão no governo brasileiro. A medida, que entra em vigor no próximo 1º de agosto de 2025, pode gerar efeitos diretos tanto para o mercado interno de alimentos quanto para a produtividade agrícola nacional, segundo avaliação do ministro Wellington Dias, titular do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome.

Durante entrevista ao programa “Bom Dia, Ministro”, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Dias destacou que, embora a queda nas exportações possa levar a uma redução momentânea nos preços de alimentos para o consumidor final, o impacto negativo sobre os produtores pode ser duradouro e comprometer a estrutura de produção do país.

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Tarifaço pode afetar vendas de sucos, carnes e outros produtos

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Imagem: Reprodução

Impacto imediato: possível queda no preço dos alimentos

Produtos com forte presença nas exportações

Entre os principais produtos brasileiros impactados pela tarifa estão laranja, café, carnes e frutas, que representam fatias relevantes das exportações agroindustriais brasileiras para o mercado norte-americano. Com a imposição da nova tarifa, é esperada uma diminuição na competitividade desses produtos, o que pode levar à redução do volume exportado e ao redirecionamento da produção para o mercado interno.

Efeito colateral: preços mais baixos para o consumidor

Com maior disponibilidade desses produtos no mercado doméstico, os preços podem cair temporariamente, resultando em uma leve desaceleração da inflação de alimentos. Segundo Wellington Dias, no entanto, essa é uma consequência indesejada, pois não decorre de uma melhoria estrutural na produção ou competitividade, mas sim de um obstáculo externo.

“As tarifas podem, sim, ter alguma influência momentânea, baixando a inflação dos alimentos. Mas o que queremos é a redução dos preços por competitividade”, afirmou o ministro.

O outro lado: risco de desestímulo à produção

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Necessidade de equilíbrio

O governo reconhece que o alívio no bolso do consumidor é bem-vindo, mas alerta para o risco de desestruturação da cadeia produtiva. Com menor rentabilidade e dificuldades de escoamento para o mercado externo, muitos produtores podem ser levados a reduzir investimentos ou até abandonar a atividade.

“Temos que buscar um preço adequado para o consumidor, mas também proteger o produtor. Caso contrário, desestimulamos a produção”, alertou Dias.

Efeitos de médio e longo prazo

Se o desestímulo for generalizado, o resultado pode ser queda na oferta futura de alimentos, com repercussões negativas para a segurança alimentar, geração de empregos e desenvolvimento regional, especialmente em áreas dependentes da agricultura exportadora.

Estratégias do governo para minimizar os impactos

Apoio à diversificação de mercados

Uma das principais estratégias anunciadas pelo governo é a busca por novos mercados internacionais para absorver os produtos que seriam enviados aos Estados Unidos. A missão está sendo coordenada em conjunto pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e por ministérios relacionados à produção e ao comércio exterior.

Produtos como mel, frutas tropicais e carnes são os primeiros alvos dessa realocação comercial, com novos acordos sendo discutidos com países da Ásia, Oriente Médio e América Latina.

Fomento à produção competitiva

O ministro Wellington Dias também defendeu políticas que aumentem a produtividade por hectare, como:

  • Acesso a financiamentos com juros mais baixos;
  • Investimento em tecnologia e mecanização rural;
  • Incentivo à organização de cooperativas e cadeias produtivas locais.

Essas medidas, segundo ele, podem reduzir os custos de produção e tornar os produtos brasileiros mais atrativos, mesmo em um cenário de concorrência tarifária.

Relação comercial entre Brasil e Estados Unidos

Um histórico comercial desfavorável aos brasileiros

Em sua fala, Wellington Dias fez questão de destacar que a relação comercial entre Brasil e EUA historicamente favoreceu os norte-americanos. Ele citou que o Brasil importa mais do que exporta para os Estados Unidos, desmentindo a alegação de Trump de que os EUA estariam sendo prejudicados na balança comercial.

“Compramos mais do que vendemos para os EUA”, pontuou o ministro, classificando a justificativa americana como “especulativa e fora de contexto”.

Interferência política nas relações comerciais

O ministro também sugeriu que o tarifaço pode estar relacionado a fatores não econômicos, citando as investigações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, conduzidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), como possíveis gatilhos da medida. Trump teria condicionado o fim das sanções à concessão de anistia a Bolsonaro, o que, segundo Dias, caracteriza um ataque especulativo com fundo político.

Investigações paralelas: suspeita de informação privilegiada

Alerta de possível crime financeiro

O ministro também mencionou suspeitas levantadas por autoridades brasileiras e americanas de que investidores teriam sido avisados previamente do tarifaço e comprado dólar antes do anúncio oficial, lucrando com a alta da moeda. Segundo ele, “espertos foram avisados antes”, o que levanta indícios de uso indevido de informação privilegiada (insider trading).

Apelos por uma investigação internacional

Diante do ocorrido, Dias defendeu a abertura de uma investigação internacional, com a participação de órgãos multilaterais e dos próprios governos envolvidos. Segundo ele, é necessário que os países prejudicados se protejam, mas mantendo os princípios de diplomacia e diálogo internacional.

Repercussão no setor produtivo brasileiro

Alerta entre agroindústrias e cooperativas

Associações do agronegócio, como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), demonstraram preocupação com os impactos da medida. Para os representantes do setor, o governo precisa agir rápido para garantir alternativas de exportação, evitando perdas significativas na cadeia produtiva.

Mobilização política

No Congresso Nacional, parlamentares da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) também pressionam o Itamaraty por uma reação diplomática mais firme, com possibilidade de levar o caso à Organização Mundial do Comércio (OMC).

Perspectivas e próximos passos

Lula
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Aguardar os desdobramentos comerciais

O efeito do tarifaço será sentido gradualmente nos próximos meses. O real impacto sobre os preços internos, a renda dos produtores e o saldo da balança comercial dependerá de como o governo brasileiro irá gerenciar as consequências e reagir às pressões internacionais.

Fortalecer o consumo interno e o mercado regional

Enquanto busca novos destinos para suas exportações, o Brasil também poderá incentivar o consumo interno e promover ações de fortalecimento do comércio regional, com campanhas para valorização dos produtos nacionais em mercados latino-americanos.

Imagem: Freepik e Canva/Edição: Seu Crédito Digital