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Empresas aéreas lucram bilhões com taxas de bagagem; saiba como isso aconteceu

As companhias aéreas Air Canada e Southwest Airlines se juntaram recentemente ao grupo cada vez maior de empresas que passaram a cobrar taxas extras pelo despacho de bagagens. A decisão, embora alinhada com tendências do setor, tem gerado forte reação de passageiros e autoridades, principalmente nos Estados Unidos e no Canadá.

O que começou como uma estratégia de empresas de baixo custo se tornou padrão também entre grandes nomes da aviação. A insatisfação dos clientes tem crescido na mesma medida em que aumentam os lucros dessas empresas com serviços antes inclusos na tarifa.

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Reações de passageiros: “Parece uma pegadinha”

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Imagem: JC Gellidon / Unsplash

Na porta do aeroporto de Toronto, a jovem Lauren Alexander, de 24 anos, acabava de desembarcar de um voo vindo de Boston. Para evitar pagar US$ 200 (cerca de R$ 1.100) pela bagagem despachada, ela optou por levar apenas uma pequena mochila.

“Parece uma pegadinha. Você compra a passagem achando que fez um bom negócio e acaba gastando quase o dobro por causa da mala”, reclamou Lauren.

Sage Riley, de 27 anos, compartilha a mesma frustração. Para ela, viajar de avião “pode sair caro demais”. Esses depoimentos refletem um sentimento crescente de revolta entre os consumidores diante de cobranças consideradas abusivas.

A origem das cobranças: o modelo das companhias low cost

Como tudo começou

A prática de cobrar pelo despacho de bagagens teve início em 2006 com a companhia britânica FlyBe. A taxa era simbólica: £2 (R$ 15) antecipado ou £4 (R$ 30) no balcão. No entanto, o modelo se espalhou rapidamente.

Em 2008, a American Airlines foi a primeira dos EUA a adotar a medida, cobrando US$ 15 por mala despachada em voos domésticos. No Brasil, as companhias aéreas começaram a cobrar em 2017, com valores que hoje variam entre R$ 60 e R$ 160 para a primeira mala.

Pressão da concorrência

Segundo Jay Sorensen, consultor da IdeaWorks, a decisão foi uma resposta à pressão das empresas de baixo custo, que começaram a ganhar espaço no mercado oferecendo passagens baratas e cobrando por serviços à parte.

“As grandes companhias perceberam que precisavam competir de alguma forma com essas tarifas baixas”, explica Sorensen.

O impacto financeiro para as companhias aéreas

Bilhões em receita com taxas

Os números são expressivos. Em 2024, as companhias aéreas globais arrecadaram US$ 145 bilhões (R$ 810 bilhões) apenas com taxas extras, o que representa 14% da receita total do setor. Só com bagagens despachadas, as empresas americanas lucraram US$ 7,27 bilhões (R$ 40,6 bilhões).

Esse valor superou o recorde anterior, de US$ 7 bilhões em 2023, e está muito acima dos US$ 5,76 bilhões obtidos em 2019.

A crítica política

Com valores tão altos, os olhos dos políticos se voltaram para o setor. No final de 2024, executivos de companhias aéreas foram chamados a depor no Senado americano.

Um dos senadores democratas classificou as taxas como junk fees — termo usado para indicar cobranças abusivas — e pediu que o governo revise a política de cobranças adicionais. A proposta inclui possíveis sanções às empresas que excedam limites considerados razoáveis.

A resposta dos consumidores: malas menores e criatividade

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Imagem: ImYanis / shutterstock.com

Malas de mão viram tendência

Com o avanço das cobranças, os passageiros passaram a buscar alternativas. Uma delas é viajar apenas com malas de mão.

Kirsty Glenn, CEO da fabricante de bagagens Antler, com sede no Reino Unido, relatou um aumento nas buscas por modelos compatíveis com os padrões de cabine.

“Lançamos um novo modelo em abril e ele esgotou rapidamente. Isso mostra a mudança de comportamento dos consumidores”, afirmou.

Influencers ajudam viajantes a driblar regras

A influenciadora Chelsea Dickenson se especializou em testar malas nas estruturas de medição de bagagem dos aeroportos. Seus vídeos viralizam ao mostrar como escolher modelos que realmente atendem às exigências das companhias.

Esse tipo de conteúdo tem ajudado milhares de passageiros a evitar surpresas no embarque e a escapar das taxas.

A experiência do passageiro hoje: do lanche ao assento, tudo é cobrado

Fragmentação do serviço

Além da bagagem, serviços antes considerados básicos agora custam caro. Escolher um assento, ter acesso ao Wi-Fi ou até receber um lanche simples se tornaram benefícios pagos.

Essa fragmentação do serviço cria o que especialistas chamam de “tarifa ilusória”: o passageiro acredita estar pagando menos, mas o valor final da viagem pode ser até superior ao de antes da adoção desse modelo.

Estratégia de rentabilidade

Por outro lado, as empresas argumentam que essa estratégia permite que o consumidor escolha o que deseja pagar. Em vez de um serviço completo e caro, cada item é opcional, o que supostamente reduz o valor base da passagem.

Na prática, isso tem gerado frustração e exigido maior planejamento por parte do consumidor.

O futuro das cobranças: resistência ou adaptação?

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Imagem: 06photo / shutterstock.com

Possíveis regulações à vista

Com o avanço das investigações no Senado dos EUA, existe a possibilidade de que haja uma regulação federal sobre o tema. A proposta mais debatida é limitar o valor cobrado por serviços como despacho de bagagem e permitir maior transparência nos preços.

Ainda não há consenso, mas a pressão política e social pode levar a mudanças nos próximos anos.

Consumo mais consciente

Enquanto isso, o consumidor vai se adaptando. A venda de malas de mão deve continuar em alta, assim como o interesse por conteúdo que ensine a economizar em viagens.

Empresas que conseguirem oferecer um equilíbrio entre tarifas competitivas e transparência nos custos poderão sair na frente nesse novo cenário.

Conclusão

A cobrança por bagagem despachada, agora adotada por gigantes como Air Canada e Southwest, é parte de uma mudança maior no setor aéreo. O modelo “low cost” se consolidou globalmente, mas seus efeitos continuam a gerar polêmica e revolta.

Com a reação dos passageiros, o crescimento do mercado de malas pequenas e o aumento da fiscalização política, o futuro da aviação comercial pode caminhar para mais equilíbrio e clareza nas tarifas.

Enquanto isso, o passageiro se reinventa — aprendendo a viajar leve, escolhendo com mais atenção e, acima de tudo, questionando o que antes parecia imutável.