‘Careca do INSS’ recebeu R$ 1 milhão por Pix de ex-gerente do BMG, revela COAF
Relatório do Coaf aponta que o Careca do INSS recebeu R$ 1 milhão em Pix de ex-gerente do BMG. Entenda o caso.
Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) revelou que o lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, recebeu R$ 1 milhão por Pix do ex-gerente do banco BMG, Anderson Ladeira Viana.
A transação foi feita para a empresa Brasília Consultoria Empresarial S/A, de propriedade do lobista, e levantou suspeitas de movimentações incompatíveis com o faturamento declarado da companhia.
Segundo o documento, a operação financeira chamou atenção por ocorrer pouco antes de um contrato entre o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e a Associação de Assistência Social a Pensionistas e Aposentados (AASPA), fundada por Viana após deixar o BMG em 2022.
Continue a leitura para entender o que diz o relatório e os desdobramentos da investigação.
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Como surgiu a ligação entre o ex-gerente do BMG e o Careca do INSS
De acordo com o Coaf, Anderson Ladeira Viana utilizou a empresa Dataqualify para validar assinaturas e biometrias com o objetivo de filiar beneficiários à AASPA. Pouco depois, a associação conseguiu firmar um acordo com o INSS, autorizado pelo então diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão, André Fidelis, no início de 2024.
O relatório indica que o pagamento de R$ 1 milhão em Pix ao Careca do INSS ocorreu antes da assinatura do contrato, o que levantou suspeitas de favorecimento.
Movimentações financeiras acima do faturamento
Fundada em outubro de 2022, a Brasília Consultoria Empresarial S/A, também conhecida como BSB Business Consulting, declarou um faturamento anual de R$ 1,6 milhão.
Entretanto, apenas as transferências feitas por Viana somaram R$ 1 milhão, representando quase todo o valor declarado da empresa.
Entre junho de 2023 e abril de 2024, mais de R$ 46,5 milhões circularam nas contas da empresa do Careca do INSS, o que reforçou os alertas do Coaf sobre possíveis atividades fora do ramo declarado.
Essas movimentações passaram a integrar o conjunto de provas analisadas pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, que investiga fraudes bilionárias em benefícios previdenciários.
Depoimento e negação de envolvimento
Em depoimento prestado à CPMI do INSS no dia 25 de setembro, Careca do INSS negou qualquer envolvimento em irregularidades. O lobista, que chegou a ser preso durante a Operação Sem Desconto, declarou que está sendo alvo de uma campanha difamatória.
“Sempre acreditei que a verdade, sustentada em fatos e documentos, seria suficiente para afastar a mentira e a calúnia”, afirmou.
Apesar da defesa, o relatório financeiro e as transações seguem sob análise da Polícia Federal (PF), que busca identificar eventuais conexões políticas e empresariais dentro do esquema.
Repercussão no Banco BMG e silêncio dos envolvidos
O Banco BMG emitiu uma nota oficial negando qualquer ligação com as operações de ex-funcionários. A instituição destacou que adota altos padrões de governança e conformidade, assegurando transparência e integridade em suas atividades.
“O Banco BMG não tem qualquer relação com negócios de ex-funcionários e observa rigorosamente as normas legais e regulatórias aplicáveis ao setor financeiro”, diz o comunicado.
Procurado pela imprensa, Anderson Ladeira Viana não respondeu às mensagens. Já o advogado de Antonio Carlos Camilo Antunes, Cleber Lopes, e representantes da AASPA preferiram não se pronunciar sobre as acusações.
Outros negócios sob suspeita do Coaf
O caso entre o ex-gerente do BMG e o Careca do INSS não é o único a levantar suspeitas.
De acordo com documentos obtidos pelo Coaf, a empresa World Cannabis (WorldCann), também ligada ao lobista, pagou R$ 500 mil ao escritório de advocacia do político Manoel Arruda, primeiro suplente da senadora Damares Alves (Republicanos-DF).
Segundo o advogado, o Careca do INSS contratou os serviços jurídicos em novembro de 2024 para intermediar uma parceria com a Indústria Química do Estado de Goiás (Iquego).
O objetivo era viabilizar a produção de medicamentos e produtos farmacêuticos dentro do Programa de Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDP), do Ministério da Saúde.
No entanto, o contrato foi encerrado em 8 de maio, duas semanas após a deflagração da Operação Sem Desconto, quando o lobista se tornou um dos principais alvos.
Um comprovante bancário mostra que o escritório devolveu os R$ 500 mil à empresa de Antunes em 19 de maio, mesmo após ter prestado serviços por cerca de seis meses.
Operação Sem Desconto e impacto político
A Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal, investiga um esquema de corrupção e fraudes no INSS que teria movimentado milhões de reais por meio de associações e empresas de fachada.
O Careca do INSS é apontado como o operador financeiro central do grupo, com forte atuação em contratos de descontos consignados e mensalidades associativas.
As revelações vêm provocando repercussão política e institucional, especialmente após o envolvimento de ex-funcionários de bancos e entidades ligadas ao sistema previdenciário.
O que as investigações apontam até agora
Até o momento, as autoridades identificaram:
- Transferências incompatíveis com o faturamento declarado das empresas;
- Possível intermediação de contratos com órgãos públicos;
- Uso de associações de aposentados como fachada para movimentação de recursos;
- Relações entre empresas privadas e agentes políticos.
Esses fatores reforçam a suspeita de que o Careca do INSS operava um esquema de lavagem de dinheiro e de influência sobre contratos previdenciários.
Ao longo da investigação, o Coaf, a Polícia Federal e a CPMI do INSS seguem cruzando dados bancários, societários e fiscais para entender o alcance da rede que teria beneficiado empresários e intermediários do sistema financeiro.
O caso do Careca do INSS expõe não apenas os riscos de fraudes em aposentadorias e pensões, mas também as falhas nos mecanismos de controle e transparência das instituições envolvidas.
Com informações de: Metrópoles