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Justiça confirma: Meta é condenada em 2ª instância por expor dados no Facebook, Instagram e WhatsApp

A Meta Platforms, responsável pelo Facebook, Instagram e WhatsApp, enfrenta uma das condenações mais relevantes no Brasil por vazamentos de dados pessoais. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) confirmou, em segunda instância, que a empresa deve pagar R$ 40 milhões por danos morais coletivos e R$ 10 mil a cada usuário afetado pelos episódios ocorridos entre 2018 e 2019.

A decisão representa um marco para os direitos dos consumidores e para a jurisprudência nacional no campo da proteção de dados. Ao determinar que a própria empresa identifique os usuários prejudicados, a Justiça brasileira afasta a exigência de ações individuais, facilitando o acesso à reparação.

Meta
Imagem: Sergei Elagin / Shutterstock

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O que mudou entre a primeira e a segunda instância

A sentença de primeira instância já reconhecia a responsabilidade da Meta, mas exigia que os usuários comprovassem ter sido prejudicados. Agora, o TJMG estabeleceu que essa comprovação não será mais necessária. A Meta deve, por seus próprios meios, localizar os afetados e efetuar o pagamento.

Essa inversão do ônus da prova é considerada inovadora e fortalece os mecanismos de defesa coletiva no Brasil. Segundo o advogado Gabriel de Britto Silva, se a empresa não provar que um usuário não foi afetado, este deverá ser indenizado automaticamente.

O papel do Instituto Defesa Coletiva

A ação foi movida pelo Instituto Defesa Coletiva, que atua na proteção dos direitos do consumidor. A presidente do comitê técnico da entidade, Lilian Salgado, destacou que a condenação tem valor pedagógico e evita que empresas multinacionais desrespeitem a legislação brasileira sem consequências.

O histórico dos vazamentos que motivaram a ação

Vazamento de setembro de 2018

Neste episódio, hackers exploraram uma falha no sistema do Facebook e acessaram dados de 29 milhões de pessoas. Para cerca de 15 milhões de usuários, os invasores obtiveram nomes, telefones e e-mails. Outros 14 milhões tiveram ainda mais informações expostas: sexo, cidade natal, status de relacionamento, religião, idioma e outras características pessoais.

Essa falha foi considerada grave por órgãos reguladores em diversos países, incluindo o Brasil, onde foi denunciada por não haver transparência suficiente sobre os danos causados.

Vazamento de imagens em dezembro de 2018

Poucos meses depois, o Facebook foi novamente alvo de ataques. Dessa vez, o problema envolveu imagens não publicadas, como fotos salvas em rascunho ou carregadas nos stories mas não finalizadas. Estima-se que mais de 6 milhões de usuários foram afetados, mas os números exatos não foram revelados.

Esses dados poderiam incluir fotos íntimas ou sensíveis que os usuários jamais desejaram tornar públicas, o que aumenta o potencial de dano moral individual.

Vulnerabilidade no WhatsApp em 2019

Em maio de 2019, o aplicativo WhatsApp apresentou uma falha de segurança que permitiu a instalação de softwares espiões. Os hackers exploraram uma brecha para acessar arquivos e comunicações de smartphones. Embora a Meta não tenha informado o total de atingidos, a denúncia levou à segunda ação civil pública.

Essa vulnerabilidade gerou preocupação global sobre a segurança dos aplicativos de mensagens, especialmente por conta da popularidade do WhatsApp no Brasil.

Por que a decisão é importante para os usuários

Indenização sem burocracia

Com a mudança imposta pelo TJMG, os consumidores não precisarão ingressar com ações individuais nem reunir provas específicas. A própria Meta deverá realizar a identificação proativa dos usuários prejudicados e efetuar o pagamento de R$ 10 mil por pessoa.

Trata-se de um modelo que fortalece os direitos coletivos, similar a práticas já adotadas em países da União Europeia após a vigência do GDPR (Regulamento Geral sobre Proteção de Dados).

Danos morais coletivos

Além da indenização individual, a empresa foi condenada a pagar R$ 40 milhões por danos morais coletivos. Esses valores poderão ser direcionados a fundos de interesse social, como o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDD), gerido pelo Ministério da Justiça.

A condenação sinaliza que a Justiça brasileira está atenta aos riscos causados por negligência no trato de dados pessoais.

O que a Meta diz sobre a decisão

Em nota oficial, a empresa afirmou que discorda da decisão judicial e que irá avaliar medidas legais cabíveis. A Meta ainda pode apresentar recurso em instâncias superiores, como o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Supremo Tribunal Federal (STF).

Entretanto, especialistas avaliam que a fundamentação da decisão do TJMG é robusta, especialmente pela natureza coletiva da ação e pela gravidade dos incidentes de segurança.

Como saber se você foi afetado

Meta não notificou usuários

A ação judicial denuncia que a Meta não informou diretamente os usuários afetados pelos vazamentos. Até o momento, não há lista pública de nomes nem notificação individual.

Isso comprometeu o direito à informação e à defesa dos consumidores, e foi uma das razões para a inversão do ônus da prova — agora, cabe à empresa demonstrar quais contas não sofreram vazamento, e não o contrário.

Medidas de segurança recomendadas

Mesmo que não tenha recebido notificação oficial, especialistas em privacidade recomendam que usuários:

  • Atualizem senhas dos aplicativos e redes sociais
  • Ativem verificação em duas etapas
  • Evitem fornecer dados sensíveis em conversas online
  • Fiquem atentos a tentativas de phishing e golpes personalizados

Essas ações podem minimizar riscos futuros, ainda que os danos anteriores já estejam configurados.

Precedente para outras ações semelhantes

Influência sobre outras big techs

O caso da Meta pode abrir precedente importante para processos contra outras empresas de tecnologia que tratam dados de milhões de brasileiros. A decisão judicial mostra que a Justiça do país está disposta a exigir responsabilização proativa.

Essa movimentação se insere em um contexto mais amplo de reforço à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), em vigor desde 2020, que exige boas práticas de segurança e comunicação transparente com os titulares dos dados.

Repercussão internacional

A decisão pode repercutir além das fronteiras brasileiras, já que o Brasil é um dos maiores mercados das plataformas da Meta. A condenação reforça a necessidade de políticas de segurança e gestão de incidentes alinhadas aos marcos legais locais.

O que acontece agora

Possibilidade de recurso

A Meta poderá recorrer aos tribunais superiores. No entanto, enquanto isso não acontece, o processo segue válido e os órgãos de defesa do consumidor podem cobrar o cumprimento da sentença.

Caso a decisão seja mantida, a empresa deverá apresentar um plano de identificação dos usuários afetados e um cronograma para os pagamentos.

Pressão de entidades de defesa

Instituições como o Instituto Defesa Coletiva e o Procon de diversos estados acompanham o caso de perto. A expectativa é que a sentença estimule uma mudança de postura das empresas quanto à notificação de incidentes de dados.

Além disso, especialistas sugerem que os consumidores fiquem atentos aos desdobramentos, pois podem ter direito à indenização mesmo sem ter percebido imediatamente os efeitos do vazamento.

Meta
Imagem: TY Lim / shutterstock.com

A condenação da Meta por falhas graves na proteção de dados no Brasil marca um momento decisivo na defesa da privacidade dos consumidores. Com base em decisões judiciais que fortalecem a responsabilidade corporativa, os usuários ganham respaldo contra práticas negligentes de grandes empresas de tecnologia.

Ainda que a empresa possa recorrer, a decisão do TJMG sinaliza que a era da impunidade digital está sendo desafiada. Os brasileiros afetados pelos vazamentos de 2018 e 2019 agora têm chance real de obter reparação financeira e, mais importante, de ver seus direitos reconhecidos no cenário digital.