A gigante norueguesa de softwares de gestão Visma acaba de realizar um movimento estratégico que promete mexer com o mercado brasileiro de tecnologia. A empresa anunciou a aquisição da catarinense Conta Azul, uma das fintechs mais relevantes do país no segmento de ERP (Enterprise Resource Planning) em nuvem. O valor oficial do negócio não foi revelado, mas fontes da Bloomberg Law apontam que a operação gira em torno de US$ 300 milhões — cerca de R$ 1,7 bilhão.
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Aprovação regulatória ainda está pendente
A transação marca a estreia da Visma no mercado nacional e reforça o apetite da empresa por expansão global, principalmente na América Latina. A operação ainda está sujeita à aprovação das autoridades reguladoras brasileiras.
Visma consolida presença na América Latina
Estratégia de crescimento acelerado
A compra da Conta Azul se encaixa na estratégia da Visma de ampliar sua atuação internacional por meio de aquisições estratégicas. Somente em 2024, a empresa já adquiriu cerca de 50 startups, incluindo empresas no Chile (Rindegastos) e no Peru (Mandú).
Perfil da Visma
Com sede em Oslo, a Visma foi fundada nos anos 1990 e se tornou uma companhia privada em 2006, após ser adquirida pela gigante britânica de private equity HG Capital. Atualmente, ela atende cerca de 2,1 milhões de clientes e registrou receita de US$ 3,2 bilhões. A empresa já planeja abrir capital na Bolsa de Londres no primeiro semestre de 2026.
Investimento robusto no Brasil
De acordo com fontes ligadas à transação, o múltiplo aplicado ao negócio segue os padrões internacionais do setor. O Nasdaq Emerging Cloud Index, da gestora de venture capital Bessemer, indica uma média de múltiplo de receita de 8,9 vezes — parâmetro que pode ter sido usado como base no valuation da Conta Azul.
O Bank of America foi o assessor financeiro da operação, iniciada após a fintech brasileira receber uma proposta de compra de outra empresa. A recusa inicial serviu como ponto de partida para explorar alternativas estratégicas, culminando no acordo com a Visma.
Repercussão do mercado e posicionamentos
Visma: “Um marco para o nosso crescimento no Brasil”
O CEO global da Visma, Merete Hveven, celebrou o acordo em nota divulgada pela companhia. “Acreditamos que a plataforma inovadora da Conta Azul e sua sólida posição de mercado representam a base ideal para nosso crescimento de longo prazo no Brasil”, afirmou.
Conta Azul: reforço na missão de transformar a gestão financeira
Do lado brasileiro, o CEO da Conta Azul, Vinícius Roveda, classificou o momento como decisivo para a fintech. “Com a expertise e os recursos da Visma, estamos ainda mais preparados para fortalecer nossa proposta de valor e ampliar nosso alcance e impacto no Brasil”, declarou.
Investidores e fundadores deixam a empresa
A negociação também marca a saída completa dos investidores que participaram da trajetória da startup, como Monashees, Tiger Capital, Ribbit e BTG Pactual. Os fundadores, José Sardagna e o próprio Vinícius Roveda, também se desligam da operação.
O perfil da Conta Azul e sua atuação no Brasil
ERP na nuvem para PMEs
Fundada em Santa Catarina, a Conta Azul atende atualmente cerca de 100 mil pequenas e médias empresas no Brasil, oferecendo soluções de ERP em nuvem. A empresa vem expandindo seus serviços para além do software de gestão, incluindo serviços financeiros, como meios de pagamento e automação fiscal.
Licença do Banco Central abriu novos caminhos
Em 2023, a fintech recebeu do Banco Central a autorização para operar como Instituição de Pagamentos (IP), o que abriu caminho para novas receitas e possibilidades dentro do ecossistema financeiro digital.
Preparação para o crescimento acelerado
Nos bastidores, o movimento de venda já era estudado pela alta gestão da Conta Azul, que, apesar de ter recusado propostas iniciais, buscava compreender o posicionamento do mercado em relação ao seu valor. A parceria com o Bank of America foi essencial para encontrar o investidor ideal.
O interesse crescente de grupos internacionais, como a Visma, mostra que o Brasil permanece em destaque no radar global, especialmente em um momento de ajustes econômicos internos e mudanças regulatórias no setor financeiro e tecnológico.
Impactos no mercado brasileiro de tecnologia
Indicação de aquecimento no setor de M&A
A aquisição da Conta Azul marca um dos maiores movimentos de M&A (fusões e aquisições) no setor de software B2B brasileiro em 2025. Executivos de mercado classificam o deal como um marco em meio a um cenário doméstico desafiador. “É um marco muito legal em uma semana complicada para o Brasil”, afirmou uma fonte próxima à operação. “Indica que o país está no radar. Será a primeira transação de muitas.”
Tendência de consolidação do mercado de ERP
O segmento de ERP voltado para pequenas e médias empresas tem registrado uma crescente disputa entre empresas locais e internacionais. Com soluções cada vez mais baseadas em nuvem e integrações com sistemas financeiros, o mercado brasileiro se torna terreno fértil para a consolidação — e a Visma soube aproveitar o momento.
Além da Visma, outros players globais também estão de olho no mercado nacional, considerando tanto fusões quanto aquisições para ganhar tração. A tendência é que o movimento iniciado pela empresa norueguesa incentive outras grandes corporações a seguirem o mesmo caminho.
O que esperar a partir de agora
Continuidade das operações e integração gradual
Apesar da mudança de controle, a expectativa é que a Conta Azul mantenha suas operações e equipe, pelo menos em um primeiro momento. A integração com a Visma deve ocorrer de forma progressiva, com foco na sinergia de soluções e na ampliação do portfólio de serviços oferecidos.
Potencial de novos produtos e inovação
A chegada de capital estrangeiro e know-how internacional tende a acelerar o desenvolvimento de novos produtos e tecnologias pela Conta Azul. Com a expertise da Visma em diferentes mercados, a fintech brasileira poderá incorporar soluções inovadoras, além de expandir suas integrações com bancos, órgãos reguladores e empresas de contabilidade.
Essa nova fase poderá posicionar a Conta Azul como um dos principais hubs de soluções digitais para pequenas empresas no país — algo que dialoga diretamente com o foco da Visma em democratizar o acesso a sistemas de gestão eficientes.
Conclusão
A compra da Conta Azul pela Visma representa um divisor de águas para o ecossistema de tecnologia brasileiro. O investimento de quase R$ 2 bilhões reforça o interesse de gigantes internacionais em startups nacionais com soluções consolidadas e escaláveis.
Em um cenário de incertezas macroeconômicas e instabilidades políticas, a transação mostra confiança na capacidade de crescimento do mercado brasileiro. Para os empreendedores, é também um sinal de que o momento ainda é oportuno para inovação e disrupção — especialmente em nichos onde a digitalização ainda engatinha.
Nos próximos meses, os olhos do setor estarão voltados para a integração entre Visma e Conta Azul. Os desdobramentos dessa parceria podem não apenas transformar o futuro da fintech catarinense, como influenciar profundamente o mercado de softwares de gestão no Brasil.