Juros do consignado privado sobem e superam contratos antigos; entenda
O crédito consignado privado ganhou destaque no cenário econômico nacional após mudanças recentes que alteraram sua forma de contratação e sua estrutura de taxas. O novo modelo, que dispensa convênios diretos entre empresas e bancos, trouxe mais praticidade para os trabalhadores, mas também trouxe um aumento relevante nos juros médios cobrados.
Com o objetivo de impulsionar a concorrência entre as instituições financeiras e ampliar o acesso ao crédito, a modalidade vem sendo monitorada de perto pelo Banco Central. Os dados mais recentes mostram que, apesar de ser mais barato do que o crédito pessoal tradicional, o consignado sem convênio acabou ficando mais caro do que o modelo antigo.
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Como funciona o novo consignado privado em 2025 no Brasil
O consignado tradicional exigia que a empresa tivesse um convênio com uma instituição financeira, o que dificultava a adesão de muitos trabalhadores. Esse entrave foi retirado com a nova regulamentação. Agora, qualquer trabalhador pode solicitar diretamente o crédito por meio da Carteira de Trabalho Digital, sem a necessidade de que sua empresa tenha parceria com um banco específico.
Essa mudança trouxe maior liberdade, mas também impactou a percepção de risco das instituições financeiras. Como muitos dos novos tomadores trabalham em empresas de menor porte e possuem vínculos mais curtos, os bancos passaram a cobrar taxas de juros mais altas para compensar a insegurança.
Regras de garantia com o FGTS
Um dos pontos centrais dessa nova linha é a utilização de parte do FGTS como garantia. O modelo permite que até 10% do saldo seja usado, além de 100% da multa rescisória em caso de demissão sem justa causa. Essas garantias, entretanto, ainda aguardam regulamentação definitiva, o que limita sua aplicação prática no momento.
Diferença entre modalidades de consignado
Os relatórios divulgados pelo Banco Central apontam três categorias principais:
- Consignado com convênio: taxa média de 2,6% ao mês.
- Novo consignado privado: taxa média de 3,9% ao mês.
- Crédito pessoal não consignado: taxa média de 6,2% ao mês.
Ou seja, o consignado sem convênio é mais caro do que o modelo tradicional, mas ainda bem mais barato que as linhas de crédito comuns disponíveis no mercado.
Situação atual das taxas de juros
Em agosto, o Banco Central registrou que a taxa média do consignado privado ficou em 3,79% ao mês, praticamente estável em relação a julho. Apesar da estabilidade, o patamar é considerado alto quando comparado ao consignado oferecido a servidores públicos e aposentados, cujas taxas ficam próximas de 1,8% ao mês.
Outras modalidades de crédito também seguem com juros elevados:
- Crédito pessoal não consignado: 6,12% ao mês.
- Cheque especial: 7,49% ao mês.
- Cartão de crédito rotativo: 15,29% ao mês.
Esse panorama reforça a importância do consignado, ainda que com custos maiores no setor privado, como uma alternativa mais barata do que as demais opções de financiamento de curto prazo.
Ranking de bancos e variação das taxas
Segundo os levantamentos recentes, as taxas praticadas pelas instituições variam entre 1,47% e 6,1% ao mês. Essa amplitude mostra que a busca pelo melhor contrato é fundamental.
As taxas médias divulgadas pelo Banco Central não garantem que o valor final será igual para todos. Cada instituição realiza sua análise de risco individual, considerando fatores como tempo de vínculo empregatício, renda mensal e histórico de crédito.
A importância da pesquisa antes da contratação
Especialistas orientam que o trabalhador faça uma ampla pesquisa no aplicativo da Carteira de Trabalho Digital antes de escolher o banco. Quanto maior a concorrência, maior a chance de encontrar taxas mais atrativas. Além disso, a modalidade já permite portabilidade, possibilitando migrar contratos antigos para novas instituições em busca de condições melhores.
Falta de teto nos juros
Ao contrário de outras modalidades, o consignado privado não possui um teto regulado de juros. Cada banco define a taxa de acordo com a análise de risco do cliente.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) defende que a fixação de um limite não é necessária, alegando que a própria estrutura da modalidade, aliada à garantia do FGTS, tende a reduzir naturalmente os custos.
Entretanto, o governo sinalizou que poderá intervir futuramente caso identifique abusos na cobrança de taxas. Essa possibilidade foi prevista em decreto que criou o Comitê Gestor das Operações de Crédito Consignado, responsável por acompanhar os parâmetros do setor.
Vantagens e desafios do consignado privado
Entre os pontos positivos do novo modelo, estão a ampliação do acesso ao crédito, a rapidez na contratação e a menor burocracia. O trabalhador não depende mais da empresa para ter acesso ao empréstimo.
Por outro lado, o aumento das taxas e a ausência de limite máximo de juros representam riscos. A falta de garantias regulamentadas com o FGTS também gera insegurança para quem pensa em contratar essa modalidade.
Comparação com outros públicos
Os servidores públicos e aposentados continuam sendo os grupos mais beneficiados quando o assunto é consignado. Como apresentam baixo risco de inadimplência, conseguem juros muito inferiores, quase metade do que é cobrado para os trabalhadores da iniciativa privada.
Já os empregados de pequenas empresas são os mais impactados negativamente, já que as instituições financeiras os veem como clientes de maior risco.
Perspectivas para o futuro
Com a portabilidade já em vigor, a tendência é que os trabalhadores passem a negociar mais ativamente suas dívidas, pressionando os bancos a oferecerem taxas mais competitivas.
Além disso, a regulamentação definitiva das garantias com o FGTS pode contribuir para a redução dos juros, já que aumenta a segurança para as instituições. Caso isso não ocorra e os valores sigam altos, o governo poderá estabelecer um teto.

O consignado privado trouxe mais liberdade e acesso ao crédito, mas também elevou os custos médios em comparação ao modelo com convênios. Mesmo assim, continua sendo uma opção mais barata do que o crédito pessoal não consignado e outras linhas disponíveis no mercado.
A grande questão para os próximos meses será o equilíbrio entre acesso facilitado e custo sustentável. A concorrência entre bancos e a regulamentação das garantias do FGTS terão papel decisivo para determinar se essa modalidade será, de fato, vantajosa para os trabalhadores do setor privado.
Enquanto isso, a recomendação é que cada pessoa pesquise, compare e avalie com atenção as condições antes de contratar o crédito. A escolha correta pode significar uma economia relevante no longo prazo e evitar o risco de endividamento excessivo.