Analista do Santander causa polêmica ao sugerir golpe contra Lula
Que a economia depende de decisões políticas, todos sabemos. Mas, e quando as empresas ou funcionários de alto escalão fazem ameaças à democracia? Pois foi isso o que aconteceu recentemente envolvendo um dos maiores bancos tradicionais brasileiros e um dos possíveis candidatos mais fortes à presidência nas eleições de 2022. O relatório assinado por José Luciano de Mattos Dias, da CAC Consultoria Política, foi enviado à investidores do Santander pelo analista da empresa, Victor Candido. Texto causou polêmica ao sugerir golpe contra Lula.
Antes de mais nada, é importante entendermos que é José Luciano de Mattos Dias. Dias é mestre e doutor em ciência política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). Além disso, ele é o principal sócio diretor da CAC Consultoria Política. A empresa de Brasília é especialista em análise e estratégia política desde 1997.
O relatório foi disseminado pelo analista do banco aos investidores do Santander através da plataforma de distribuição de notícias econômicas Bloomberg. Tal plataforma conta com cerca de 5.000 assinantes no Brasil, a grande maioria ligado ao mercado financeiro.
Analista do Santander causa polêmica ao sugerir golpe contra Lula
No texto em questão, o autor José Luciano de Mattos Dias diz que “Ninguém apoiará um golpe em favor de Bolsonaro, mas é possível especular sobre um golpe para evitar o retorno de Lula”. Esse trecho causou muita polêmica, por sugerir um golpe que fere a democracia brasileira.
Em nota, o banco Santander alega o conteúdo é de autoria de uma consultoria independente e que não reflete a visão do banco. Ademais, o Santander informa que o relatório circulou em um grupo restrito de investidores que necessitam embasar suas decisões em diferentes visões do cenário nacional. Veja abaixo a resposta na íntegra:
“O Santander esclarece que o texto citado não corresponde, sob qualquer hipótese, a uma visão da instituição, que restringe suas análises econômicas a variáveis que impactem a vida financeira de seus clientes, sem qualquer viés político ou partidário. O conteúdo trata-se, tão somente, de avaliação feita por uma consultoria independente – que não censuramos e por cujo teor não nos responsabilizamos -, repassada a um grupo restrito de investidores que necessitam embasar suas decisões em diferentes visões do cenário nacional.”
Parlamentares se posicionam sobre o caso
No Twitter, alguns parlamentares do PT e de outros partidos comentaram sobre o caso, criticando a postura do Santander.
Declaração de economista do Santander sobre barrar Lula mostra como o mercado está de mãos dadas com o golpe pretendido por Bolsonaro e cia. É a junção do capitalismo selvagem com o fascismo, a pior combinação possível e a sociedade que se dane. Deplorável!
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) August 13, 2021
Santander nos procurou p/ dizer q posição s/ golpe p/ tirar Lula das eleições é de consultoria independente, ñ reflete sua visão e q ñ censuram textos.Divulgar opinião é ser co-responsável. Só medida firme em relação a consultoria demonstrará q ñ concordam c/ ataques a democracia
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) August 13, 2021
Democracia é para ser defendida! Por sugestão minha, o @PTnaCamara acionou o MPF contra o economista do @santander_br que divulgou relatório que indica golpe para tirar @LulaOficial da eleiçãohttps://t.co/5Iw3YmQf6T via @brasil247 pic.twitter.com/V6bdkd8u6V
— Deputado Alencar (@AlencarBraga13) August 14, 2021
Sem cabimento um analista do banco Santander compartilhar com clientes um relatório apoiando golpe contra @LulaOficial para evitar que o PT volte ao governo. Do que eles têm medo? Da vontade popular? Da volta de uma economia com espaço para a população mais pobre também?
— Enio Verri (@enioverri) August 13, 2021
Santander já se posicionou contra o PT no passado
Entretanto, não foi a primeira vez que o Santander se envolveu em polêmica contra o PT (Partido dos Trabalhadores). O Santander enviou a seus clientes de alta renda um texto de autoria da analista do banco, Sinara Polycarpo Figueiredo. O texto circulou em julho de 2014. No texto, a autora afirmava que a economia brasileira iria piorar com a reeleição da candidata do PT, a agora ex-presidente Dilma Rousseff.
Logo após o episódio, o Santander se desculpou e reconheceu que a nota feria suas próprias diretrizes sobre apartidarismo. Além disso, Sinara Polycarpo Figueiredo foi demitida do quadro de funcionários. Em 2015, Sinara ganhou uma causa judicial contra o banco por danos morais, com direito a indenização.
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Imagem: MOZCO Mateusz Szymanski / shutterstock.com