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O que é a Shopee e como é tão popular?

Fundada em Cingapura, é um dos maiores e-commerce do mundo e ganhou espaço no Brasil, com seus preços baixos, mas está sob ameaça de taxação. Entenda!

Quem compra por meio da internet se deparou nos últimos tempos com notícias sobre a taxação das encomendas vindas do exterior, de sites como o da Shopee. Fenômeno de vendas, a empresa foi fundada em Cingapura, em 2009, e vem incomodando grandes varejistas no Brasil, por conta da concorrência considerada desleal.

Para entender o que há por trás desse movimento, vamos conhecer a história da Shopee e como o e-commerce asiático vem conquistando espaço na preferência dos consumidores.

Siga a leitura!

Quem é a Shoppe?

A Shoppe é controlada pela Sea Limited, companhia global de produtos para a internet. Ela opera três negócios principais: entretenimento digital; comércio eletrônico; e pagamentos digitais e serviços financeiros.

As três marcas da Sea Limited são Garena, que desenvolve jogos online; SeaMoney, de transações financeiras; e a Shopee, mais conhecida dos brasileiros. Inicialmente, a Sea Limited começou com serviços de software de lanhouses.

Muito antes de se tornar famosa no Brasil, porém, a Sea já se destacava no Sudeste Asiático, em países como Indonésia, Vietnã, Filipinas, Malásia e Taiwan. Além, é claro, de Cingapura. A empresa é listada na bolsa de Cingapura desde 2017.

Shopee no Brasil

A empresa começou a ficar famosa no Brasil por conta de seus preços baixos. Conforme concorrentes locais, a Shopee se beneficiou de brechas no sistema tributário para ganhar espaço.

Isso acontece porque as compras internacionais de pessoa física para pessoa física de até US$ 50 são isentas de impostos. Esse valor equivale a cerca de R$ 250, considerando uma taxa de câmbio de R$ 5 por cada dólar.

A forma como os sites se beneficiam da situação, porém, traz irregularidade. Ao enviar os produtos ao Brasil, eles se passam por pessoas físicas. 

Ou seja, se faziam de “pessoas comuns” para finalizar as vendas. Conforme a lei, mesmo abaixo de US$ 50, as compras feitas por brasileiros de empresas estrangeiras são taxadas em 60%.

Medidas do governo

Sob pressão de varejistas brasileiros, o governo Lula manifestou intenção em meados de abril de taxar todas as compras, mesmo as abaixo de US$ 50. 

A medida visava, portanto, agradar os varejistas locais, reduzir a concorrência e gerar mais arrecadação ao Governo, estimada em R$ 8 bilhões anuais. No entanto, a forte repercussão negativa, sobretudo nas redes sociais, levou o governo a recuar. 

Para tentar chegar a um meio termo, o governo passará a fiscalizar de forma mais intensiva as encomendas. Assim, em tese, se evitaria que os brasileiros comprassem de sites internacionais como se fossem de pessoas físicas.

A Associação de varejistas no Brasil, que reúne empresas como Magazine Luiza e Lojas Renner, cobrou regras mais justas entre os competidores e uma fiscalização eficaz.

Dessa forma, a Receita Federal deve passar a ser mais exigente com encomendas estrangeiras. O órgão passará a cobrar documentações e declarações completas das importações. Caso se identifique tentativa de fraude haverá multas.

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Crescimento da Shopee no Brasil

Assim como para as empresas nacionais, atuar no Brasil não é fácil, mesmo que tenha um mercado consumidor de milhões de pessoas. Entre as dificuldades estão estão tributações complexas, regulações e logística complicada.

Não bastassem os problemas econômicos, como a alta dos juros e da inflação, manter margens de lucros saudáveis e sustentáveis é outro desafio. Por isso, a preocupação por parte das empresas brasileiras com possíveis “benefícios” tributários às estrangeiras. 

Com dados até janeiro de 2023, o Mercado Livre (MELI) liderava, seguido da Amazon, Magazine Luiza (MGLU), Americanas (AMER) – antes da crise – e Shopee, o total de visitas nos sites de e-commerce. 

Participação dos sites no total de visitas de usuários da internet no Brasil

Participação dos sites no total de visitas de usuários da internet no Brasil

No gráfico acima, se observa, o quanto a Shoppe se destaca entre os maiores sites do Brasil. Os dados não contemplam a perda de fatia de mercado da Americanas, após os problemas contábeis. 

Entenda tudo sobre a crise da Lojas Americanas nesta reportagem!

Observando agora, dados posteriores à crise da Lojas Americanas, entre fevereiro e março, se vê que a Shopee se consolida como terceira maior em fatia de mercado, por tráfego do e-commerce.

Fatia do tráfego dos 6 maiores e-commerces do Brasil

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Análise da Shopee

Para o banco de investimentos BTG, a Sea Limited vem ganhando espaço e se tornou um dos aplicativos de compras mais populares da América Latina a partir de 2021, de acordo com a consultoria Apptopia, apenas alguns anos após o seu lançamento na região. 

No Brasil, a estimativa é de que a Shopee tenha tido cerca de R$ 20 bilhões de vendas em termos de volume bruto de mercadorias (GMV) em 2022. Isso representa cerca de 8% do mercado online. Um ano antes, os cálculos do BTG davam conta de um GMV de R$ 13 bilhões da Shopee. 

A expansão se deu por conta da estratégia. A Shopee se concentrou em vender “produtos extremamente baratos”. 

Ou seja, ao invés de tentar vender fones de ouvido de US$ US$ 100, buscou quem procurasse por camisetas de US$ 5 ou batons de US$ 3. O banco ressalta que esse mercado é concentrado, especialmente, em pequenos vendedores.

“Ao oferecer itens baratos e subsidiados, a Shopee facilitou a entrada dos clientes no ecossistema e a fazer compras mais frequentes”, analisa o BTG. 

Dessa forma, a empresa não oferecia necessariamente o melhor prazo de entrega ou maior valor médio do pedido para a frequência da compra, mas conquistava a preferência.

O sucesso da estratégia se vê pelo gráfico abaixo, com a Shopee [linha azul escura], disparando nas buscas do e-commerce no Brasil.

Expansão acelerada – Visitas a sites de comércio eletrônico no Brasil (base dezembro de 2021)

Expansão acelerada - Visitas a sites de comércio eletrônico no Brasil (base dezembro de 2021)

Custos da Shopee

Outro fator que ajudou no desenvolvimento da empresa foi sua interface com as redes sociais. Isso ajudou no seu crescimento, mas o seu tíquete médio (valor médio de cada compra) ainda é baixo.

O BTG estima que o tíquete médio seja de US$ 6 no Brasil, cerca de R$ 30, com um dólar a 5 reais. Assim, após ter ganho escala, a empresa passou a adotar uma postura mais racional, nos últimos tempos, em busca de mais rentabilidade.

Em setembro de 2022, a Shopee elevou o seu “take rate” (percentual da intermediação das transações de seus vendedores locais). Ou seja, o valor cobrado de comissão dos vendedores no Brasil. A taxa subiu de 12% para 14%, no serviço padrão, e de 18% para 20% no premium. 

Expansão da Shoppe 

Para a Sea Limited, dona da Shoppe, atuar no Brasil, portanto, abre nova frente de presença na região. A empresa tem como alvos na América do Sul países como Colômbia e Argentina.

Dessa forma, o Brasil, com seu enorme mercado, é essencial para a estratégia global da empresa. Conforme o BTG, a Shoppe deve buscar atrair maiores vendedores, com mais sortimento de produtos.

No entanto, a maior fiscalização do governo brasileiro e a busca por uma melhora da rentabilidade de suas operações podem atrasar o seu desenvolvimento.

Assim, é possível que a Shoppe nos próximos tempos não cresça tanto quanto nos últimos anos no Brasil.

Imagem: Maxx-Studio / Shutterstock.com

(Cândido Mendes)