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Os preços do arroz e do feijão vão cair?

Presente no prato do brasileiro, os preços do arroz e do feijão preocupam, com a alta da inflação. Entenda neste artigo se os preços vão cair ou não

O Brasil vem encarando um aumento geral dos preços de itens da cesta básica, como é o caso da dupla indispensável ao prato do brasileiro: o arroz e o feijão. Conforme o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Econômicos (Dieese), todas as capitais tiveram aumento ano passado. Por isso, surge a dúvida: os preços do arroz e do feijão vão cair em 2023?

Para entender melhor isso, é importante saber que a variação do preço dos alimentos é multifatorial. Muitas vezes, ela é associada à inflação — o que não é incorreto. No entanto, existem mais aspectos impactando esses aumentos.

Basta fazer uma comparação. Segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação acumulada de 2022 foi de 5,79%.

Ao mesmo tempo, o feijão carioca, por exemplo, teve uma variação de 27,77% no acumulado do mesmo ano, ainda segundo o IPCA.

Para entender se o preço do arroz e do feijão devem subir em 2023, compreenda quais fatores impactam no valor desses itens no mercado.

O que faz o preço dos alimentos aumentar?

O ambiente econômico nacional e internacional são dois aspectos determinantes do preço dos alimentos, o que inclui, é claro, o feijão e o arroz.

Mas eles não são os únicos. Mudanças climáticas, abastecimento energético e até mesmo fatos políticos e sociais podem fazer com que a clássica combinação da refeição brasileira sofra alterações em seu valor.

Entenda, a seguir, alguns dos elementos que implicam nessa variação.

Inflação

Quando falamos em inflação, estamos tratando justamente sobre o aumento no custo de vida das pessoas. Ela é calculada tomando como base bens e serviços que fazem parte do cotidiano.

Os aumentos dos preços dos alimentos, portanto, são refletidos na inflação. Eles não são os únicos, mas contribuem para chegar ao resultado geral da diminuição do poder de compra.

A inflação também reflete em novos efeitos econômicos. O aumento dos custos gerais impactam a cadeia produtiva, podendo produzir novos aumentos de preços para o consumidor.

Mas, como você pôde ver anteriormente, a inflação sozinha não explica o aumento do preço dos alimentos no supermercado, uma vez que eles podem não acompanhar os aumentos e as diminuições desse índice, além de variarem em números diferentes.

Taxa de câmbio e exportação

O valor do real em relação ao dólar é um dos principais fatores que impactam no preço dos alimentos. Isso se dá, entre outros motivos, pela diferença entre exportações e importações dos produtos.

Alimentos, em especial commodities como o arroz, são negociados dentro de um ecossistema de mercado global.

Essas transações têm como base o dólar. 

Quando o real se desvaloriza, significa que ele está mais distante do valor da moeda americana. Isso faz com que o preço de importações aumente.

Mas você pode estar se perguntando: “então o Brasil não produz arroz e feijão?”. Sim, o país produz esses dois itens.

Uma estimativa do Gain Report, produzido pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, aponta que o Brasil produziu 11,6 milhões de toneladas de arroz na safra 2021/2022.

Hoje, o país é autossuficiente na produção desse grão.

Porém, uma moeda em baixa faz com que as exportações se tornem mais atraentes para os produtores do que o mercado local. Quanto menos vale o real, mais interessante é vender para fora.

Com a desvalorização do real, as importações ficam mais caras e as exportações de produtores aumentam, o que se reflete em menor abastecimento do mercado local. Esses dois fatores impactam o preço que se paga por alimentos no mercado.

Exportações de arroz

Fonte: Conab

Conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em relatório de janeiro de 2023, a contínua redução da produção de arroz nos EUA abre espaço para exportação do arroz brasileiro.

“O Brasil contabilizou uma exportação recorde ao longo do ano de 2022, no volume de 2,1 milhões de toneladas, com o México respondendo por 22% deste volume”, destaca. “Nota-se viés de alta nas cotações do arroz no mercado internacional”, acrescenta.

Exportação de feijão

Fonte: Conab

Em relação ao feijão, as exportações brasileiras são menores, comparadas à produção, o que reduz o desequilíbrio entre o produto vendido aqui e no exterior.

“Identifica-se um mercado comprador consolidado, porém sem perspectiva de expansão, em função da redução no plantio, e ao limitado mercado internacional de caupi, tipo de grão exportado pelo país”, aponta a Conab.

Mudanças climáticas

Períodos de seca, aumento de chuvas e variações de temperatura são comuns. Mas mudanças climáticas têm impactos nas dinâmicas naturais desses processos.

Essas alterações provocadas pelo impacto humano na natureza fazem com que os biomas sofram períodos mais longos de seca, sofram chuvas de granizo, geadas e outros fenômenos incomuns para determinados ambientes.

Isso afeta diretamente as colheitas, já que não apenas as plantas e os grãos, mas a dinâmica da produção, dependem de fatores ambientais relativamente estáveis.

Para se ter ideia, a seca na safra 2021/2022 teve um impacto de R$ 72 bilhões apenas na soja, segundo José Salvador Foloni, pesquisador da Embrapa Soja, de acordo com informações do site do Canal Rural.

Fatores políticos e sociais

Como já é de se imaginar, o cenário político influencia uma cadeia de outros fatores, como a economia, o transporte e o próprio clima.

Os bloqueios de rodovias promovidos no Brasil por manifestações em 2022, por exemplo, impediram o transporte de alimentos e a manutenção da cadeia produtiva do país.

Além disso, políticas ambientais — que tendem a ter efeitos a longo prazo — também interferem no impacto climático da ação humana e, por consequência, nas plantações.

Uma legislação de apoio à agricultura sustentável também pode melhorar as relações econômicas com outros países. 

A produção de alimentos em áreas desmatadas, por exemplo, pode ser vetada em alguns países, impactando o setor e os preços.

Crises internacionais

Guerras, crises econômicas e conflitos diplomáticos também têm o poder de afetar a produção regional de alimentos.

A guerra entre Ucrânia e Rússia, declarada em fevereiro de 2022, afetou diversos insumos produzidos por ambos, o que tornou as exportações e as produções imprevisíveis. É o caso de combustíveis, alimentos e fertilizantes.

Isso tem um impacto não apenas no suprimento russo e ucraniano, mas também na cadeia global de abastecimento, de produção e de preços de produtos agrícolas.

Além disso, a crise sanitária promovida pela Covid-19 também impactou o agronegócio. 

Com a retomada da produção em diversos países com a amenização da pandemia, a demanda por energia aumentou. 

Como a cadeia de produção de alimentos depende diretamente disso, o valor dos alimentos também pode aumentar em consequência.

Esses são apenas alguns exemplos de como o cenário político internacional impacta o agronegócio e o preço dos alimentos.

O arroz e o feijão vão aumentar em 2023?

Agora, explicados todos os fatores que podem aumentar os preços do arroz e do feijão, vamos analisar o que é esperado para 2023.

Devido aos efeitos citados — e tantos outros —, as previsões para o preço do arroz e do feijão neste ano não são animadoras.

Luciano Quartiero, CEO da Camil, uma das principais beneficiadoras de arroz do Brasil, apontou, durante teleconferência com analistas, em janeiro, que o preço do arroz deve subir no ano de 2023. 

A principal justificativa é o fenômeno climático La Niña, que tem impacto na produção, por conta da redução das chuvas, atrapalhando o desenvolvimento das lavouras.

O preço do grão já vinha em alta no último ano, e a tendência é que os aumentos continuem.

No feijão, a previsão é que o preço continue subindo. A principal razão para o crescimento é a expectativa de safra menor devido ao clima, menores áreas plantadas e o custo do fertilizante. 

Perspectiva preço do arroz

Conforme a Conab, sobre o arroz, com o atual cenário de menor oferta e demanda aquecida pelo grão, “os preços seguem com viés de alta”.

O órgão sinaliza ainda uma queda significativa de área plantada no Rio Grande do Sul, gerando um déficit produtivo ao longo de 2023.

“Com a forte elevação dos custos de produção e menor rentabilidade da cultura, nota-se firme tendência de redução de área da cultura no país”, pontua.

Para a Conab, esta conjuntura tem resultado em menor oferta do grão e, consequentemente, “resultará em valorização da cotação do arroz no Brasil”.

Perspectiva preço do feijão

Em relação ao feijão, a Conab projeta menor produção no próximo ciclo, gerando uma redução de área plantada.

Isso acontece, em parte, por conta da menor rentabilidade do feijão em comparação com outras culturas, aos produtores.

A queda no consumo traz preocupação de médio prazo ao mercado, “pois até mesmo os bons preços não estimulam os plantios”.

Portanto, é provável que tanto os preços do arroz quanto os do feijão subam de valor em 2023.