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Quem é a Shein, a gigante chinesa de moda

A gigante do e-commerce mundial vem crescendo no Brasil por conta do preço baixo de seus produtos, mas virou alvo de taxação. Entenda tudo!

A Shein se tornou um fenômeno de vendas no Brasil e no mundo por conta dos baixos preços de seus produtos. Fundada na China, em 2012, mas com sede em Cingapura, a empresa comercializa em mais de 150 países.

No Brasil, assim como nos demais, a Shein cresceu e conquistou a preferência de muitos consumidores. Entretanto, por aqui, isso aconteceu diante de brechas na cobrança de impostos.

Esse fato, portanto, levou a empresa asiática a ser acusada por varejistas brasileiras de concorrência desleal, pelos preços mais baixos, na comparação com as já estabelecidas no Brasil. 

Neste artigo, vamos apresentar quem é a Shein e por que suas operações cresceram tanto no Brasil nos últimos anos – acompanhadas de polêmicas. Confira!

Quem é a Shein?

Com pouco mais de dez anos de existência, a Shein se desenvolveu com uma estratégia de equilíbrio entre a oferta de seus produtos e a demanda dos seus consumidores. Essa equação é considerada crítica para o sucesso de uma varejista. 

Ou seja, ao se produzir mais do que o consumidor necessita, se gera um excesso de produção, que se transforma em “queima de estoque”. Ao passo que a falta de produtos gera perda de vendas. Em comum, ambas situações reduzem a rentabilidade.

Dessa forma, a Shein desenvolveu, ao longo dos anos, cadeias de suprimentos que permitem responder rapidamente às mudanças nas tendências do mercado. 

Assim, consegue estabelecer, em um curto período de tempo, um ciclo de desenvolvimento de produtos.

O segredo para isso, entre outros fatores, está na análise de dados e no uso de inteligência artificial (AI), para prever as tendências de demanda do mercado. Isso levou a empresa eliminar, substancialmente, o excesso de estoque e de produção, reduzindo o desperdício. 

Vestidos de noiva

A origem da Shein, porém, vem da venda de vestidos de noiva, com uma empresa criada por Chris Xu e mais dois sócios, em 2008. Quatro anos depois, Xu já era o único acionista, refundou a empresa e ampliou o seu negócio para outras peças de roupas femininas.

Nessa época, o endereço era sheinside.com. Já em 2015, quando o negócio engrenou, de vez, Xu retirou as quatro últimas letras (side) e se transformou na Shein, como é conhecida até hoje. 

A marca é considerada uma das maiores do mundo no modelo denominado de “fast fashion”. Isso é a produção de peças de roupa com muita rapidez a cada coleção, que tendem, por sua vez, a serem consumidas e descartadas com mais rapidez.

Conforme a agência de notícias Reuters noticiou em março de 2023, a Shein buscava levantar mais de US$ 2 bilhões em recursos para suas operações. Além disso, estaria avaliando uma possível abertura de capital nos Estados Unidos no segundo semestre. 

Crescimento da Shein no Brasil

No Brasil, a Shein utiliza das mesmas estratégias globais que a levaram ao sucesso. Rápida velocidade de lançamentos no mercado, abordagem nas redes sociais, sobretudo no TikTok, e o aproveitamento de brechas fiscais.

Esse último ponto, inclusive, causou polêmica. Em meados de abril, o governo manifestou interesse em taxar todas as remessas internacionais, com valores abaixo de US$ 50. Isso equivale a cerca de R$ 250.

A medida aconteceu por conta da pressão de grandes varejistas nacionais que reclamam da concorrência desleal. Isso porque os sites internacionais, como Shein, usam essa brecha de isenção para se beneficiarem.

Como isso acontece? O consumidor brasileiro faz a compra do produto no exterior, que é enviado como se fosse de uma pessoa física lá fora. Entretanto, a compra seria de uma pessoa jurídica (sites estrangeiros) para uma pessoa física (comprador brasileiro).

Após a repercussão negativa, porém, o governo voltou atrás na decisão de taxar todas as compras. No entanto, prometeu ampliar a fiscalização, para inibir que as compras vindas do exterior sejam enquadradas como de pessoa física.

Assim, com as compras vindo do exterior sendo enquadradas como remessas internacionais, de pessoa jurídica para pessoa física, os produtos acabam sendo taxados em 60%. 

Shein: roupas baratas

Como narrado acima, todos esses efeitos ajudaram a Shein a se popularizar, virando sinônimo de preço baixo no Brasil. Estudo do BTG calculou quanto custaria em cada uma das principais varejistas de roupas uma cesta de produtos.

Nesta cesta estão vestidos, jeans, jaquetas, saias, suéteres, camisetas, botas e bolsas. Conforme o estudo, as lojas comparadas são Shein, Riachuelo, C&A e Lojas Renner. Veja o resultado:

Custo total de uma cesta de oito produtos em quatro varejistas de moda (em R$)

Custo total de uma cesta de oito produtos em quatro varejistas de moda (em R$)

De acordo com o levantamento, as compras sairiam mais baratas na Shein. Com exceção, das camisetas, as demais compras no site internacional têm custos menores em todos os itens.

Veja, agora, na tabela abaixo, quanto custa, em média, cada item, em cada uma das lojas, de acordo com estudo do BTG.

Produtos/preço (R$)SHEINRIACHUELOC&ARENNER
Vestido421009070
Jeans69140160160
Jaqueta147200190200
Saia505090100
Suéter77140100140
Camiseta52304040
Botas176200200200
Bolsa36130120180
Total em R$6489899901089
Fonte: BTG

Vendas da Shein no Brasil

Como não divulga publicamente seus números, os analistas do BTG estimam que a Shein tenha alcançado, em 2022, um total de R$ 7 bilhões em vendas. Em 2021, teriam somado R$ 2 bilhões. Ou seja, as vendas subiram 250% em apenas um ano.

Outro dado que mostra a expansão da empresa é partir do número de downloads de seu aplicativo de compras, em comparação aos principais concorrentes, conforme estudo do UBS. Veja abaixo o resultado:

Participação de downloads de aplicativos de empresas de vestuário no 1º semestre de 2022 (em %)

Participação de downloads de aplicativos de empresas de vestuário no 1º semestre de 2022 (em %)

Como se vê acima, a Shein superou – e com folga – o número de downloads dos principais concorrentes brasileiros do ramo de vestuário.

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Shein: Produção no Brasil

Para reduzir a pressão, a Shein anunciou, em abril de 2023, que investirá R$ 750 milhões para produzir no Brasil. A intenção é criar um pólo têxtil local que possa exportar para a América Latina. 

Além disso, a expectativa é criar 100 mil empregos nos próximos três anos. A produção será de peças com a marca Shein. Inicialmente, de acordo com o anúncio, os recursos serão aplicados no fornecimento de tecnologia e treinamento aos fabricantes no Brasil. 

“Isto permitirá aos produtores locais gerenciar melhor os pedidos, reduzir o desperdício e diminuir o excesso de estoque, resultando em uma maior agilidade para responder à demanda do mercado”, anunciou a empresa.

A expectativa da Shein, portanto, é de que, até o final de 2026, cerca de 85% de suas vendas sejam locais, tanto de fabricantes como de vendedores. Isso tanto diretas quanto via marketplace.

Ademais, a Shein destaca que a produção local vai contribuir à competitividade geral da indústria têxtil, abrindo espaço à exportação.

Parceiro local

A produção local será realizada em parceria com a Coteminas, uma das maiores empresas têxteis do Brasil. A empresa é controlada por Josué Gomes da Silva, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP). Gomes da Silva é também filho do ex-vice-presidente José Alencar, durante o governo Lula (de 2003 a 2010).

No acordo, ficou estabelecido um esforço conjunto de financiamento para que 2.000 dos clientes confeccionistas da Coteminas forneçam para a Shein. Conforme o memorando, as peças produzidas serão destinadas ao mercado interno e à exportação para América Latina.

O que esperar da Shein?

Para os analistas do BTG, a Shein deve diversificar sua matriz de produção, melhorar os níveis de serviço e ampliar o engajamento à marca. Vale destacar o alto tráfego orgânico de sua plataforma, com maior duração de visitas e mais páginas visualizadas, em relação aos seus concorrentes locais.

Entretanto, todos esses movimentos – maior fiscalização do governo e produção local – levarão a Shein a competir com maior igualdade em comparação às empresas brasileiras. Isso, segundo o BTG, poderá ocasionar um aumento dos preços. No entanto, a análise reforça a forte abordagem nas redes sociais, o que ajuda muito nas vendas.

O Itaú BBA aponta que a produção local da Shein vai nivelar a concorrência. Afinal, a empresa estrangeira estará sujeita às mesmas leis. “Competir com as operações internacionais da Shein foi muito mais desafiador (às empresas brasileiras), dada a vantagem de preço relacionada aos custos de fabricação chineses”, destaca o BBA. 

Por fim, o Goldman Sachs analisa que a construção de uma nova cadeia de fornecedores locais robusta e confiável seja um processo de vários anos. “Ainda não está claro quanta vantagem a Shein irá transferir à produção local de seus fornecedores”, analisou.

Mesmo assim, o Goldman Sachs ressalta que a Shein oferece uma abordagem diferenciada para o modelo “fast fashion”, aproveitando a tecnologia para identificar tendências de mercado e melhorar seus níveis de estoques.

Imagem: II.studio / Shutterstock.com

(Cândido Mendes)