Você vai se surpreender: os ricos estão pagando menos Imposto de Renda que você
Um levantamento recente realizado pelo Sindifisco Nacional, sindicato dos auditores fiscais da Receita Federal, revelou uma distorção crescente no sistema tributário brasileiro: enquanto os brasileiros mais ricos vêm pagando menos Imposto de Renda ao longo dos anos, a classe média tem arcado com uma carga tributária crescente, especialmente devido ao congelamento da tabela do IR entre 2015 e 2023.
O estudo escancara o caráter regressivo da tributação atual e levanta um alerta sobre a necessidade urgente de reformas estruturais para tornar o sistema mais justo e equilibrado.
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Alíquota efetiva caiu para os super-ricos
Redução de 37% no IR de quem ganha mais de R$ 400 mil
De acordo com o levantamento, a alíquota efetiva do IR para quem ganha acima de R$ 400 mil mensais caiu 2,56 pontos percentuais entre 2007 e 2023. Na prática, isso representa uma redução de 37% no valor pago de imposto, mesmo com o crescimento dos rendimentos dessa faixa.
Essa queda não significa necessariamente mudanças na tabela formal, mas sim no comportamento da arrecadação e nos mecanismos de isenção aplicados aos rendimentos de capital.
Classe média paga mais: até 2.900% de aumento
Renda de R$ 6.600 foi a mais penalizada
O estudo também revelou que a faixa de renda em torno de R$ 6.600 mensais teve um aumento de 6,42 pontos percentuais na alíquota efetiva, o que representa um salto de 2.900% na carga tributária ao longo do período analisado.
Em termos absolutos, enquanto um trabalhador que ganhava entre 5 e 7 salários mínimos em 2007 (salário mínimo de R$ 380,00) pagava R$ 151,20 por ano, em 2023, com o mínimo em R$ 1.320,00, esse mesmo trabalhador passou a pagar R$ 4.622,40 ao ano.
Essa elevação, segundo o Sindifisco, não está ligada ao aumento real da renda, mas sim à mudança de faixa na tabela do IR não corrigida pela inflação, fenômeno conhecido como “bracket creep”, ou avanço por faixas.
Congelamento da tabela do IR: o fator determinante
Tabela não era corrigida desde 2015
Entre os principais fatores apontados para o agravamento da regressividade no sistema, o Sindifisco destaca o congelamento da tabela do Imposto de Renda desde 2015, o que empurrou milhões de contribuintes para faixas mais altas de cobrança, mesmo quando seus salários foram apenas corrigidos pela inflação.
Essa política, aliada à isenção de lucros e dividendos distribuídos — que beneficiam majoritariamente os grandes investidores — criou um sistema em que o trabalhador assalariado médio paga proporcionalmente mais do que o detentor de capital.
Lucros e dividendos continuam isentos
Hoje, no Brasil, lucros e dividendos distribuídos a sócios e acionistas não são tributados no Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF). Isso significa que, enquanto o trabalhador tem descontos diretos na fonte, o investidor pode receber milhões por mês isentos de IR.
Essa situação não é comum em países desenvolvidos. Na OCDE, apenas o Brasil e a Estônia mantêm a prática de não tributar dividendos.
Presidente do Sindifisco defende tributação dos ricos
O presidente do Sindifisco Nacional, Dão Real, defendeu publicamente uma revisão profunda do modelo tributário brasileiro. Segundo ele, enfrentar a concentração de renda e aplicar impostos sobre grandes fortunas e lucros é essencial para promover justiça social.
“O Estado precisa cumprir seu papel redistributivo. Tributar os ricos é um passo necessário para combater a desigualdade e financiar políticas públicas com maior equilíbrio social”, afirmou.
Nova tabela do IR: o que muda para 2025 e 2026?

Governo Lula atualizou a tabela
Após anos de congelamento, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atualizou a tabela do IR em 2023, e vem fazendo ajustes anuais de acordo com a inflação.
A proposta mais recente, já aprovada pela Câmara dos Deputados e em análise no Senado, eleva a faixa de isenção para quem ganha até R$ 5 mil por mês. A medida cumpre uma promessa de campanha e deve entrar em vigor a partir de 2026, com efeitos sobre a declaração de 2027.
Nova tabela: isenção até R$ 5 mil
Com a nova proposta, a isenção do IR será estendida a quem ganha até R$ 5 mil por mês, ou R$ 60 mil por ano. Além disso, haverá descontos parciais para quem ganha até R$ 7.350 mensais.
Para compensar a perda de arrecadação com a nova isenção, o governo propôs maior tributação sobre rendas altas, especialmente para contribuintes com rendimentos mensais superiores a R$ 50 mil ou R$ 600 mil por ano.
Quanto o trabalhador vai ganhar com a nova tabela?
Simulação mostra impacto nos salários
Um levantamento feito pela Confirp Contabilidade apontou o ganho líquido mensal para diferentes faixas de renda, caso a nova tabela entre em vigor.
Veja os principais resultados:
- R$ 3.036: nenhum ganho.
- R$ 3.400: ganho de R$ 27,30/mês.
- R$ 4.000: ganho de R$ 114,76/mês.
- R$ 5.000: ganho máximo de R$ 312,89/mês.
- R$ 6.600: ganho de R$ 99,86/mês.
- R$ 7.200: ganho de R$ 19,98/mês.
- R$ 7.350 ou mais: nenhum ganho adicional.
Esses valores representam um alívio parcial para as camadas médias, embora o aumento expressivo da alíquota entre 2015 e 2023 não tenha sido totalmente compensado.
Debate sobre a justiça fiscal segue aberto
Reforma tributária mais ampla ainda é necessária
Apesar do avanço com a nova tabela, especialistas apontam que o Brasil ainda precisa de uma reforma tributária ampla e estrutural, que contemple:
- Tributação progressiva de grandes fortunas
- Tributação de lucros e dividendos
- Revisão de incentivos fiscais
- Harmonização entre impostos federais, estaduais e municipais
A PEC da reforma tributária, aprovada em 2023, focou principalmente na unificação de impostos sobre consumo, deixando o tema da renda e do patrimônio para etapas posteriores.
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