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Fernando Henrique Cardoso: conheça o pai do Plano Real

FHC foi presidente do Brasil, entre 1995 e 2002. Entre seus principais feitos estão a estabilização econômica e a criação do real. Conheça sua história!

Conhecido como o pai do Plano Real, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) foi o responsável pela implementação da atual moeda em circulação no Brasil e que acabou com o processo de hiperinflação no país.

Político e sociólogo, ele nasceu no Rio de Janeiro, em 18 de junho de 1930, tendo exercido o mandato de presidente do Brasil entre os anos de 1995 e 2002. Antes, fez carreira acadêmica e lecionou em universidades brasileiras e estrangeiras.

Filiado ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), polarizou na política com Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, contra quem disputou duas eleições para presidente e as venceu. 

Não conseguiu emplacar, porém, sucessor nas eleições de 2002, mas fez uma transição pacífica e organizada para o petista, ao final de seu mandato.

Saiba agora a história do ex-presidente brasileiro, que está por trás do marco da estabilização econômica do país.

Fernando Henrique Cardoso: história

FHC, como é conhecido popularmente, construiu uma longa carreira política e acadêmica antes de ser presidente do Brasil. Foi casado com a antropóloga Ruth Cardoso, com quem teve três filhos: Luciana, Paulo Henrique e Beatriz.

Ele foi formado em Ciências Sociais, pela USP, em 1952, especializando-se em Sociologia e tornando-se doutor nos anos seguintes. Entre os anos 50 e 70, atuou em diversas universidades, antes de colocar os dois pés de vez na política.

Um de seus primeiros atos na política aconteceu ao se candidatar como suplente de Franco Montoro, ao Senado, em 1978. Com o fim do bipartidarismo, assim que a ditadura começou a perder força no Brasil, ajudou a fundar, em 1980, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (MDB).

Foi efetivado como senador por São Paulo, em 1983, quando Montoro se elegeu governador do Estado. Em 1985, concorreu a prefeito da capital paulista, mas perdeu a disputa para Jânio Quadros. Em 1988, por sua vez, se reelegeu senador.

Logo em seguida, ajudou a fundar o PSDB, partido em que é filiado até os dias de hoje, junto com Franco Montoro e Mário Covas, ex-governador de São Paulo. Teve ainda forte atuação na elaboração da Constituição de 1988.

FHC, Plano Real e Hiperinflação

Após o impeachment, em 1992, de Fernando Collor de Mello – que foi o primeiro presidente eleito de forma direta no Brasil, depois do período da ditadura militar (1964-1985), e que ficou conhecido pelo confisco da poupança – assumiu seu vice, Itamar Franco.

O cenário econômico no Brasil era caótico. O país vivia o período da hiperinflação, quando os preços disparavam diariamente. Ou seja, deixar o dinheiro embaixo do colchão de um dia para outro o fazia perder muito valor.   

A inflação que já vinha alta ao longo dos anos 80, na faixa dos 100% aos 200% por ano, disparou ainda mais a partir de 1988. Isso gerou um período de grande recessão e crise econômica, no final dos anos 80 e início dos 90. 

Neste período o Brasil viveu algo parecido com o que a Venezuela convive há alguns anos, de hiperinflação, e semelhante ao quadro mais recente da Argentina.

Confira qual era a inflação anual no Brasil:

  • 1988: +629%;
  • 1989: +1.430%;
  • 1990: +2.947%;
  • 1991: +432%;
  • 1992: +951%;
  • 1993: +1.927%;
  • 1994: +2.075%;
  • 1995: +66%;
  • 1996: +15%.

Ministro FHC

No governo de Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso foi ministro das Relações Exteriores, entre 1992 e 1993, e assumiu o ministério da Fazenda, em 1993 até 1994, quando se candidatou à presidência da República. 

Durante seu cargo na Fazenda, estruturou as bases e lançou o Plano Real, em 1º de julho de 1994. O plano consistia na realização de um forte ajuste nas contas públicas, com elevação dos juros para controlar a demanda e evitar pressões inflacionárias.

O principal ponto do plano, porém, para a população, consistiu na criação da Unidade Real de Valor (URV), que funcionou de forma virtual e em paralelo com a antiga moeda brasileira, o Cruzeiro Real. 

Apesar da desconfiança e das preocupações com mais esse insucesso econômico, o plano deu certo e acabou – finalmente – com a hiperinflação que existia no Brasil. 

E, como não poderia ser diferente, alçou o nome de Fernando Henrique Cardoso como principal candidato à presidência nas eleições de 1994. 

Presidente Fernando Henrique Cardoso

Em 1º de janeiro de 1995, Fernando Henrique Cardoso assumiu como presidente da República, cargo em que seria reeleito – após uma alteração na Constituição, que passou a permitir essa possibilidade –, em 1998, tendo ficado até 31 de dezembro de 2002.

As duas vitórias nas eleições se deram em 1º turno – tamanho foi o sucesso do Plano Real, que finalmente estabilizou a economia – e sobre o candidato Lula, que o sucederia, porém, em 2003. 

Nas eleições de 1994, em 3 de outubro, FHC elegeu-se com 54,3% dos votos, pela coligação PSDB/PFL/PTB. Já em 4 de outubro venceu com 53,06% dos votos válidos. 

Governo FHC

A principal marca do governo de Fernando Henrique Cardoso, sem sombra de dúvidas, foi a da estabilização econômica. Com a inflação controlada, o país pôde voltar a crescer, sobretudo, ao longo do 1º mandato de FHC.

Entre seus principais atos, estiveram uma série de alterações no funcionamento do Estado brasileiro, com uma grande reforma administrativa e da Previdência. Além disso, aconteceu uma flexibilização das regras de contratação de mão-de-obra.

Outra iniciativa foi o fim dos reajustes automáticos da inflação, que era uma prática necessária vinda do período da hiperinflação. Ademais, estabeleceu a possibilidade de livre negociação de salários entre patrões e empregados.

Com a queda drástica da inflação, o governo FHC alterou os poderes do Banco Central (BC), já que muitos bancos passaram a enfrentar dificuldades financeiras. Isso porque, com a hiperinflação, as pessoas precisavam deixar, obrigatoriamente, o seu dinheiro no banco – e com o Plano Real isso deixou de ser uma necessidade. A alteração no BC possibilitou, portanto, a intervenção nos bancos que poderiam quebrar, não deixando o prejuízo com os correntistas.

Privatizações

Um dos mais polêmicos do governo de Fernando Henrique Cardoso veio com a privatização de empresas estatais. Junto com a reforma administrativa e previdenciária, as vendas das companhias públicas foram essenciais para o controle das despesas públicas e aumento da arrecadação.

Entretanto, todo o processo foi seguido de muito debate no Congresso Nacional e críticas da oposição, liderada pelo PT. No centro das discussões estavam o papel estratégico das empresas para o governo e o preço avaliado para a venda.

As principais empresas privatizadas foram a Vale, na época chamada Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), e a Petrobras, que deixou o monopólio na exploração de refino de petróleo e gás natural.

Contudo, a privatização que mais alterou a vida dos brasileiros foi a do sistema Telebras, então estatal de telecomunicações, e companhias regionais. A partir desse momento houve uma grande expansão das casas que passaram a ter telefone fixo e, em seguida, celular.

ex-presidente Fernando Henrique Cardoso escrevendo
Imagem: JFDIORIO | shutterstock

Crise internacional e hídrica

Se na primeira metade do governo FHC a economia cresceu, no segundo mandato a situação foi bem diferente. Uma série de fatores externos – e também internos – prejudicou o seu governo, contribuindo, inclusive, para o avanço de Lula.

Houve uma sequência de crises internacionais, durante o seu governo: no México, em 1994; na Ásia, em 1997; e na Rússia, em 1998. Os eventos colocaram à prova a estrutura do Plano Real, que resistiu. A condução do governo também foi elogiada.

No entanto, o Brasil não passou ileso. No início de 1999, o governo passou por uma “crise cambial” e o real, que tinha uma paridade de 1 para 1 para o dólar – ou seja, R$ 1 valia US$ 1 –, deixou de existir.

Assim, houve uma desvalorização do real e o governo adotou um regime de câmbio flutuante. Para controlar a inflação foi criado o regime de metas de inflação e houve a disparada da taxa de juros. A Selic saiu de 19% para 45% ao ano, em poucos meses.

Ademais, entre os anos de 2001 e 2002, o Brasil passou por uma crise hídrica, por falta de chuvas. A estiagem afetou todo o sistema de energia elétrica, já que o Brasil depende de hidrelétricas. Isso levou à obrigação de racionamento de energia, não só pela população, como pelas indústrias e a agricultura. 

O efeito disso foi o da paralisação da atividade econômica. Após esse episódio, várias medidas, que já deveriam ter sido adotadas há muito anos, foram implementadas, como a interligação do sistema nacional de energia. 

Confira o desempenho econômico, de expansão do PIB, nos anos de Fernando Henrique Cardoso:

  • 1995: +4,2%;
  • 1996: +2,2%;
  • 1997: +3,3%;
  • 1998: +0,3%;
  • 1999: +0,4%;
  • 2000: +4,3%;
  • 2001: +1,3%;
  • 2002: +3,0%.

Programas sociais

Mesmo com a marca registrada da privatização, de liberal, e das reformas, sobretudo a da Previdência, dos anos 90, o governo FHC também foi marcado por avanços no campo da assistência social. 

Foi durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso que se desenvolveram alguns dos principais programas de transferência de renda, que perduram até hoje. Antes, existiam de forma desestruturada doações de cestas básicas, entrega de leite e distribuição de água nas regiões de secas.

Ao longo de seu governo, se estruturou toda uma rede de proteção social, que estava prevista, em boa parte, na própria Constituição de 1998. Em suma, foram integradas diversas políticas públicas, com foco na assistência social.

O governo FHC criou o programa Bolsa Escola, que visava garantir a frequência nas salas de aula  de alunos em situação de pobreza. Ele consistia na transferência de recursos do governo diretamente às famílias.

O Bolsa Escola foi o precursor do Bolsa Família, reestruturado e mais amplo, lançado no primeiro governo Lula, incluindo outros benefícios como Bolsa Alimentação e Auxílio-Gás. Tudo isso, ajudou na redução da pobreza e extrema pobreza no Brasil.

Além disso, no governo FHC, foram desenvolvidos programas de erradicação do trabalho infantil e de registro civil de nascimento, para que todos os brasileiros pudessem ter o direito de registro de paternidade, combatendo a invisibilidade social.

Atual papel de Fernando Henrique Cardoso

Em seus últimos meses no comando do Palácio do Palácio do Planalto, em 2002, houve uma coordenação na transição para o primeiro governo de Lula. Apesar das disputas ao longo dos anos 90, durante o período da ditadura militar, ambos defenderam ideias semelhantes.

Entretanto, ao longo do governo FHC, o PT foi extremamente crítico, sobretudo por acordos feitos com o Fundo Monetário Internacional (FMI), bem como pelas políticas liberais, como as privatizações. Tudo isso, porém, não atrapalhou a passagem de bastão de FHC para Lula.

Ademais, grande parte do êxito de seu sucessor no Planalto, veio do processo de estabilização da economia, com o Plano Real, e das iniciativas das área social, de FHC, que são seguidas até hoje pelos demais presidentes.

Nas eleições de 2022, Fernando Henrique Cardoso anunciou publicamente seu apoio a Lula, contra Jair Bolsonaro, do PL, acompanhando outros economistas, entre os quais os formuladores do Plano Real.

FHC seguiu como voz atuante dentro do PSDB, ao longos dos últimos anos, sendo a sua principal liderança. Concentra grande parte de seu acervo no Instituto Fernando Henrique Cardoso.

(Cândido Mendes)

Imagem: Wilson Dias/Agência Brasil