Seu Crédito Digital
O Seu Crédito Digital é um portal de conteúdo em finanças, com atualizações sobre crédito, cartões de crédito, bancos e fintechs.

Conheça a trajetória do presidente Lula

Eleito pela 3ª vez, Lula enfrenta desafios ainda maiores neste novo mandato. Saiba a trajetória do político que desperta amor e ódio no país

Eleito com 60,3 milhões de votos, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se tornou presidente, em 2023, pela terceira vez. Sua vitória, porém, com mínima margem de vantagem, frente ao candidato derrotado no 2º turno, Jair Bolsonaro (PL), ajudou a ampliar a polarização no país.

Após uma transição e início de governo bastante conturbados, Lula busca implementar algumas das suas principais promessas de campanha. Entre elas, o reajuste acima da inflação do salário mínimo, a correção da tabela do imposto de renda e a entrega de uma nova regra fiscal.

Além disso, relançou o Bolsa Família e o programa Minha Casa Minha Vida, que foram marcas de seus dois primeiros mandatos, entre 2003 e 2010.

Outras iniciativas dizem respeito às áreas saúde, educação, meio ambiente e relações internacionais, que se alteraram em relação ao governo Bolsonaro (2019-2022). 

Durante a disputa eleitoral, em 2022, Lula foi amplamente questionado sobre escândalos de corrupção, sobretudo os descobertos pela Operação Lava Jato. Além disso, foi cobrado pelo período em que esteve preso, por 1 ano e 7 sete meses.

Conheça, agora, a história do líder sindical, que virou presidente, e que divide opiniões favoráveis e contrárias no Brasil e no mundo.

História de Lula

O presidente Lula nasceu em Garanhuns, em Pernambuco, no dia 27 de outubro de 1945, sendo o sétimo de oito filhos entre Aristides Inácio da Silva e Eurídice Ferreira de Mello. Em 1952, a família migrou para o Guarujá (SP), em busca de melhores condições de vida, viajando por 13 dias num caminhão “pau de arara”.

Em 1956, a família se mudou para o bairro do Ipiranga, em São Paulo (SP). Com 12 anos, Lula teve seu primeiro trabalho, numa tinturaria, e, em seguida, foi engraxate e office-boy. Aos 14, começou a trabalhar com carteira assinada, em uma fábrica, e se formou como torneiro mecânico.

A chegada de Lula ao mundo político se deu por meio do movimento sindical, na região do ABC paulista. Entre 1969 e 1975, foi galgando espaços até se tornar presidente do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo e Diadema (SP), representando 100 mil trabalhadores.

Após ser reeleito presidente do sindicato, em 1978, liderou uma série de greves de operários. Em março de 1979, cerca de 170 mil trabalhadores do ABC pararam as atividades. Como consequência de sua atuação, foi preso em 1980, por menos de um mês.

Leia mais:

Lula cria o PT

Em 1980, Lula ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores (PT), que contribuiu no processo de redemocratização do país, durante o período final dos governos militares (1964-1985).

A primeira disputa eleitoral de Lula foi em 1982, como candidato ao governo do estado de São Paulo, não se elegendo. Em 1986, contudo, conquistou uma cadeira como deputado federal, sendo o mais votado do país. Ele teve participação na criação da nova constituição, de 1988.

Disputas presidenciais

Antes de vencer três eleições, Lula sofreu três derrotas. Em 1989, na primeira eleição direta para presidente, após 29 anos, ele foi para o segundo turno, sendo derrotado por Fernando Collor de Mello (PRN).

Em 1992, Collor sofreu impeachment e ficou marcado por ter sido o responsável pelo confisco da poupança. A iniciativa foi uma tentativa, frustrada, de controlar a inflação.

Enquanto isso, em 1994 e em 1998, foi novamente derrotado, desta vez, por Fernando Henrique Cardoso (FHC), do PSDB, partido que polarizou a política brasileira com o PT por 20 anos.

O principal feito de FHC, o que garantiu suas duas vitórias sobre Lula, foi o processo de estabilização da economia, com a criação do Plano Real. 

A medida conseguiu estancar o processo de hiperinflação que assolava o país entre os anos 80 e primeira metade dos 90. 

Veja o resultado das eleições perdidas por Lula:

  • 1989: Collor, 35,090 milhões de votos (53,03%) x Lula, 31,075 milhões de votos (46,97%) – disputa decidida em 2º turno;
  • 1994: FHC, 34,364 milhões de votos (54,28%) x Lula, 17,122 milhões de votos (27,04%) – disputa decidida em 1º turno;
  • 1998: FHC, 35,936 milhões de votos (53,06%) x Lula, 21,475 milhões de votos (31,71%) – disputa decidida em 1º turno.

Vitórias de Lula

A primeira vitória de Lula aconteceu nas eleições de 2002, quando venceu o candidato do PSDB, José Serra, que havia sido ministro da Saúde de FHC. No dia 1º de janeiro de 2003, portanto, subiu a rampa do Planalto, como 35º presidente da República.

Entre suas primeiras iniciativas esteve a manutenção do processo de estabilização econômica, iniciado com FHC. Lula também se comprometeu com os princípios da “carta ao povo brasileiro”, quando assegurou que respeitaria os contratos nacionais e internacionais.

Por conta de declarações passadas, como de rompimento com o FMI e críticas ao pagamento da dívida externa, porém, houve nervosismo do mercado financeiro com a eleição de Lula. O dólar, por exemplo, disparou e o governo precisou elevar as taxas de juros.

Entretanto, o governo conseguiu ultrapassar as turbulências econômicas e implementou as bases de seus programas sociais, garantindo o crescimento da distribuição de renda. O principal deles foi o Bolsa Família, carro-chefe da política social de seus governos.

Nem mesmo o escândalo do Mensalão, de “compra de apoio” no Congresso Nacional, que derrubou seu então ministro da Casa Civil, José Dirceu, foi o suficiente para tirar sua popularidade com o eleitorado.

2º mandado

Bem avaliado, Lula conseguiu a reeleição, no pleito de 2006, contra outro candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo. Assim como em 2002, Lula manteve o empresário José Alencar como seu vice-presidente na chapa.

Neste segundo mandato manteve a política de valorização do salário mínimo [veja gráfico abaixo], o que ajudou na ascensão da classe média ao poder de consumo. Foi quando surgiu também o Minha Casa Minha Vida, programa de habitação popular.

Aumentos reais no salário mínimo

O governo se destacou ainda na educação. Foram criados o Fundo de Financiamento ao Estudante de Ensino Superior (FIES), o Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Tudo isso ampliou o acesso das classes de renda mais baixa ao ensino superior. 

Na economia, o Brasil superou a crise financeira internacional de 2007 e 2008, com medidas de estímulo à atividade, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Houve também um constante aumento da concessão de crédito às famílias.

Ao final de seus oito anos de mandato, o governo Lula acumulou um crescimento médio anual de 4% do PIB. Além disso, encerrou seu 2º mandato com uma taxa de desemprego de 5,7%, a menor desde 2002.

Enquanto isso, a classe média, segundo estudo do IBGE, cresceu 44% em oito anos, sendo que o consumo nesta faixa de renda – na época entre R$ 1.064 e R$ 4.591 – aumentou 6,8 vezes, quase se igualando aos gastos das classes A e B.  

Com relativos sucessos na economia e no campo da inclusão social, Lula deixou o governo, em 31 de dezembro de 2010, com uma aprovação recorde de 87%, conforme o Ibope. Com isso, conseguiu eleger sua sucessora, Dilma Rousseff, que assumiu em 2011.

Lava Jato e prisão 

Após deixar o governo, contudo, Lula se manteve ativo na política. Foi conselheiro informal da presidente Dilma e passou a realizar palestras no Brasil e no exterior. Ademais, ajudou, em 2012, na eleição de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo. 

Em 2014, apoiou Dilma na campanha à reeleição ao Planalto, abrindo mão de um eventual terceiro mandato. Logo após eleger sua candidata, em uma disputa acirrada, novamente, contra o PSDB, desta vez com Aécio Neves, começou o declínio do PT.

Nos dois anos seguintes, se instaurou uma crise política e econômica. O estopim foi a Operação Lava Jato, que descobriu esquemas de corrupção, dentro da Petrobras. Outros partidos estavam envolvidos, mas o foco das investigações se deu em cima do PT.

Como consequência de todas as investigações, em abril de 2018, poucos meses antes da nova eleição presidencial, que apontava Lula como um dos favoritos, ele teve ordem de prisão expedida e confirmada pelo STF. 

O caso se referia ao processo do Triplex do Guarujá, quando Lula teria sido supostamente beneficiado com uma reforma, por parte de uma empreiteira, por conta de contratos envolvendo a Petrobras durante o seu governo.

Lula acabou sendo condenado, inicialmente, a 12 anos e 1 mês de reclusão, a serem cumpridos na sede da Polícia Federal, em Curitiba (PR), onde o caso foi julgado. Dessa forma, ele teve que sair da disputa presidencial, indicando Haddad ao seu lugar.

Ao final das eleições de 2018, Bolsonaro acabou se elegendo com 57,7 milhões de votos (55,13%), contra 47,04 milhões (44,87%) de Haddad, do PT.

Volta de Lula

Depois de ficar 580 dias preso, Lula foi solto em novembro de 2019. A ordem veio por conta de uma mudança de entendimento do STF a respeito de prisão em segunda instância. O tribunal entendeu que réus só podem ser presos se não houver mais recursos da defesa.

Em meio a isso, surgiram vazamentos de conversas envolvendo o juiz responsável pelo caso da Lava Jato, Sérgio Moro, e procuradores. Com isso, a defesa de Lula argumentou parcialidade do juiz em relação ao caso, tese aceita posteriormente pelo STF.

Entretanto, o que possibilitou a participação de Lula nas eleições foi a anulação de suas condenações, em março de 2021, no âmbito da Operação Lava Jato. A justificativa foi a de que a 13ª Vara Federal de Curitiba não era a competente para julgar os casos.

Assim, as condenações que haviam retirado Lula das eleições de 2018, por estar enquadrado na Lei da Ficha Limpa, caíram e ele pôde disputar as eleições de 2022. Dessa vez, se aliando a Alckmin, contra quem disputou o cargo em 2006.

3º mandado

A volta de Lula ao Palácio do Planalto se deu a partir da disputa mais acirrada até hoje realizada para a presidência. Ao final, a diferença de votos foi de pouco mais de 2,1 milhões, dentro de um total de 118,5 milhões de votos válidos.

Durante a campanha, a troca de acusações se sobrepôs à apresentação de propostas aos problemas da população brasileira. Uma onda de notícias falsas (fake news) e acusações de possíveis fraudes nas urnas eletrônicas tomaram conta da campanha.

Após perder a eleição, Bolsonaro não admitiu oficialmente a derrota e não passou a faixa presidencial. Em meio ao clima de tensão e de suposta tentativa de golpe, houve a invasão, em 8 de janeiro, dos prédios da Praça dos Três Poderes, em Brasília.

No início de seu terceiro governo, Lula enfrenta a desconfiança do mercado, por conta da apresentação de uma nova regra para as contas públicas, e relança os programas Minha Casa Minha Vida e Bolsa Família. 

Também anunciou, no dia 1º de maio de 2023, reajustes do salário mínimo e a correção da tabela do Imposto de Renda. Nos primeiros meses de governo, Lula esteve nos EUA, na China, na Argentina, no Oriente Médio e na Europa.

No exterior, Lula busca reinserir o Brasil no cenário político internacional, visando fechar novos acordos comerciais e anunciar medidas relativas ao clima, como compromissos de redução do desmatamento na Amazônia.

Entretanto, em viagem ao Oriente, o presidente fez declarações polêmicas sobre o conflito entre a Ucrânia e a Rússia. Além disso, enfrenta um Congresso conservador, em que terá duras negociações para aprovar os seus principais projetos.

Novos desafios

Ao contrário de 2003, quando assumiu pela primeira vez, agora, Lula enfrenta problemas de restrição orçamentária, juros altos e inflação persistente, ainda como consequência da pandemia, bem como uma polarização da sociedade.

Por mais que tenha tido uma experiência, relativamente exitosa, no passado, o contexto atual traz maiores desafios a Lula. A capacidade, portanto, de superá-los vai ditar o final de sua biografia, no futuro.

Veja o resultado das eleições vencidas por Lula:

  • 2002: Lula, 52,793 milhões de votos (61,27%) x José Serra, 33,370 milhões de votos (38,72%) – disputa decidida em 2º turno;
  • 2006: Lula, 58,295 milhões de votos (60,83%) x Geraldo Alckmin, 37,543 milhões de votos (39,17%) – disputa decidida em 2º turno;
  • 2022: Lula, 60,345 milhões de votos (50,90%) x Bolsonaro, 58,206 milhões de votos (49,10%) – disputa decidida em 2º turno.

(Cândido Mendes)