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Conheça a trajetória de Jair Bolsonaro

Líder de direita, soube usar o poder das redes sociais e discurso conservador para se eleger.

Eleito em 2018, como 38º presidente da República, Jair Messias Bolsonaro exerceu seu mandato ao longo de quatro anos, deixando o cargo ao final de 2022. Fenômeno eleitoral, cresceu em popularidade em meio aos anseios da população por mudanças, com um discurso conservador e prometendo romper com a forma tradicional de fazer política, associada a escândalos de corrupção, como os descobertos pela Operação Lava Jato.

Na busca pela reeleição, no pleito presidencial de outubro de 2022, porém, acabou perdendo por uma pequena diferença de votos. Bolsonaro teve 58,206 milhões de votos (49,10% do total válido), enquanto o candidato vitorioso, Luiz Inácio Lula da Silva, obteve 60,345 milhões de votos (50,90%). A diferença, ao final do processo eleitoral, portanto, ficou em 2,139 milhões de votos.

Eleição apertada

A margem estreita de diferença de votos ampliou ainda mais a polarização na sociedade brasileira, já que quase metade da população votou pela recondução de Bolsonaro. Ao mesmo tempo, foram formados acampamentos em diversas cidades brasileiras, em frente a quartéis, com manifestantes questionando os resultados das urnas.

Enquanto isso, ao longo dos últimos dois meses de mandato [em novembro e dezembro de 2022], Bolsonaro não admitiu publicamente e de forma explícita a sua derrota, mantendo seus apoiadores engajados nas ruas, nos quartéis e nas redes sociais.  

Ademais, o seu partido, o PL, chegou a solicitar ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a anulação de cerca de 250 mil urnas eletrônicas – o que poderia reverter o resultado das eleições –, por supostas “desconformidades” e “mau funcionamento” dos modelos utilizados; o que foi negado. 

Diante de todo esse contexto, Bolsonaro deixou o Brasil, em direção aos EUA, em 30 de dezembro de 2022, não passando a faixa presidencial para Lula.  

8 de janeiro

Uma semana depois, no dia 8 de janeiro, ocorreu a invasão aos prédios do Palácio do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal (STF). Os atos de vandalismo, que lembraram o ataque ao Capitólio, nos EUA, em 6 de janeiro de 2021, foram creditados a apoiadores de Bolsonaro – que estavam acampados em Brasília – e, ao final, mais de duas mil pessoas foram presas. 

As responsabilidades seguem sendo apuradas, mas não foram provadas até agora uma participação direta de Bolsonaro nos fatos. Entretanto, após estes eventos, de depredação da Praça dos Três Poderes em Brasília, houve desmobilização da base eleitoral de Bolsonaro por todo o país. 

Além disso, ele foi julgado, na última semana de junho de 2023, pelo TSE, por ataques ao sistema eletrônico de votação, em uma reunião com embaixadores, ocorrida no Palácio do Planalto, um ano antes. Ao processo, foi adicionado o elemento de uma possível “minuta de golpe”, apreendida pela PF na casa do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres. A apreensão ocorreu como consequência das investigações dos ataques de 8 de janeiro.

Ao longo de seu mandato, foram recorrentes as críticas ao sistema eletrônico, com o político defendendo, em vão, o uso do voto impresso, para checagem dos resultados. Todos esses elementos foram levados em consideração pelo TSE.

No final da sessão, em 30 de junho de 2023, por 5 votos a favor e 2 contra, Bolsonaro foi considerado culpado por abuso de poder e utilização indevida dos meios de comunicação públicos e estrutura do governo.

Assim, Bolsonaro foi condenado à inegibilidade por oito anos. Dessa forma, não poderá concorrer a cargos eleitorais até 2030.

Bolsonaro: Vitória em 2018

Apesar da não reeleição e da inegibilidade, em 2018, a eleição de Bolsonaro foi considerada por muitos como surpreendente. Ele venceu com uma estrutura partidária e financeira mínima, já que o PSL era um pequeno partido político. 

Tanto que o tempo de televisão de Bolsonaro, no primeiro turno, foi de apenas 8 segundos. Como comparação, Geraldo Alckmin, do PSDB, tinha 5 minutos e 32 segundos; Fernando Haddad, 2 minutos e 23 segundos; e Henrique Meirelles, 1 minuto e 55 segundos.

Dessa forma, Bolsonaro rompeu com o padrão de polarização, existente desde 1994, de eleições no Brasil, de disputas entre PT e PSDB. 

Mas como ele conseguiu se eleger com tão pouco tempo de TV? Afinal de contas, até então, o tempo de TV era visto como essencial para uma vitória para presidente.

A resposta está no uso eficiente das redes sociais, como Facebook, Twitter e WhatsApp para fazer campanha. Ninguém como ele soube explorar tão bem esse território, disseminando suas mensagens, mobilizando e engajando mais eleitores, que se multiplicaram.

Ao conseguir falar com um público maior, ele cresceu nas pesquisas de intenção de voto. Em paralelo, adotou um discurso direto, com posições conservadoras, anti-petista e com declarações polêmicas.

Assim, o discurso de alguém de “fora do sistema tradicional” angariou eleitores, sobretudo por conta da insatisfação generalizada com o sistema político. Em suma, o bolsonarismo encampou o discurso anticorrupção, em paralelo ao crescimento de uma onda conservadora de direita, em vários países do mundo. 

Afinal, a Operação Lava Jato desmantelou um grande esquema de corrupção e este eleitor se identificou com Bolsonaro. No mais, os demais candidatos do espectro de direita se dividiram em várias candidaturas, perdendo força.

Lula e facada

Contudo, outros dois fatores podem ser considerados muito relevantes para a vitória de Bolsonaro. 

Primeiramente, a saída de seu principal oponente do páreo, o então ex-presidente Lula, que acabou sendo condenado, preso e enquadrado na lei da ficha limpa, ficando inelegível. Lula liderava as pesquisas de intenção de voto, em 2018, e não conseguiu transferir todo o seu capital político a Fernando Haddad, que assumiu seu lugar como candidato.

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Haddad teve dificuldade de dissociar a sua candidatura do tema da corrupção, já que Lula havia sido preso exatamente por isso, em 7 de abril de 2018. Condenado a 12 anos, em regime fechado, Lula foi solto em 8 de novembro de 2019, após 580 dias de pena e suas condenações anuladas, na sequência, pelo STF.

Em segundo lugar, não há como negar que a facada que Bolsonaro recebeu, no dia 6 de setembro de 2018, cerca de um mês antes do 1º turno das eleições, acabou o beneficiando, mesmo às custas da quase perda de sua vida.

Ele foi esfaqueado em Juiz de Fora (MG) e levado às pressas para sala de operação de um hospital, após ter sido atingido no abdômen e tendo o intestino perfurado, gerando uma hemorragia interna.

Como consequência, passou por diversos procedimentos e ficou quase um mês internado. Ao longo de todo o seu mandato, eventualmente, precisou retornar ao hospital, pelas sequelas que ficaram.

Eleições

A facada levada por Bolsonaro não pode ser considerada como único fator para sua eleição, já que vinha em franca expansão nas pesquisas eleitorais, mas a comoção nacional, causada pelo fato, trouxe influência em grande parte do eleitorado indeciso.

Então, no dia 7 de outubro de 2018, Bolsonaro, do PSL, obteve 46% dos votos válidos, com um total de 49,276 milhões de votos. Em seguida, ficou Haddad, com 31,342 milhões, equivalente a 29,2% dos votos válidos.

Assim, Bolsonaro superou políticos experientes, como os ex-governadores Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT), além de Marina Silva (Rede), e foi para o segundo turno.

Na votação final, em 28 de outubro de 2018, ele confirmou a vitória, com 57,797 milhões de votos, representando 55,13% dos votos válidos. Haddad ficou com 47,040 milhões – 44,87% dos votos válidos.  

Imagem de Bolsonaro ao lado de uma bandeira do Brasil.
Imagem: Valter Campanato / Agência Brasil

Mandato de Bolsonaro

Ao assumir em 1º de janeiro de 2019, o Governo Bolsonaro recebeu o país com baixa taxa de crescimento, alto desemprego e rombo nas contas públicas. Em boa parte, esses fatos estavam relacionados à crise econômica de 2015 e 2016, quando o PIB recuou, nestes dois anos, cerca de 7%.

Para lidar com os desafios econômicos, Bolsonaro nomeou o ex-banqueiro Paulo Guedes como ministro da Economia. Como medida de ajuste fiscal das contas públicas, a principal delas foi a Reforma da Previdência, para reestruturar todo o sistema de pagamento de pensões e aposentadorias.

Ao longo do governo, outras medidas foram adotadas, como a Lei da Liberdade Econômica, para tentar melhorar a atividade empresarial, reduzindo a burocracia. Cabe destacar também os programas de parcerias de investimentos (PPI), que desenvolveram setores como de infraestrutura, energia e saneamento. Inclusive, foi aprovado um novo Marco do Setor de Saneamento, para melhorar os investimentos.

O governo ainda promoveu a privatização da Eletrobras, a empresa pública de energia, que atua em todo o país. Também começou estudos para a venda da participação na Petrobras, mas não avançou.

Em relação à Petrobras, foram nomeados cinco presidentes, ao longo de seus quatro anos de mandato. As mudanças estiveram relacionadas às constantes altas de preços dos combustíveis, o que trouxe enorme desgaste à sua imagem.

Isso porque o aumento no preço dos combustíveis tem efeito por toda economia, gerando inflação, o que afeta as camadas de menor renda.

Por fim, na economia, o governo apoiou a autonomia do Banco Central (BC). Dessa forma, o presidente da autoridade monetária, responsável por decidir a taxa básica de juros do país, passou a ter mandato de quatro anos, independente do governo eleito. 

Assim, as decisões sobre os juros no país, em teoria, passariam a não sofrer influência do governo.

Mais medidas

Outras medidas foram as reformulações de programas do governo anterior. Na habitação, Bolsonaro relançou o programa Casa Verde e Amarela, em substituição ao Minha Casa Minha. Enquanto isso, na assistência social, o governo remanejou o Auxílio Brasil, antes Bolsa Família

Na segurança, o presidente nomeou o juiz da Operação Lava Jato Sérgio Moro, como ministro da Justiça. Figura central da operação que levou Lula à prisão, foi um trunfo de Bolsonaro, para imagem de combate à corrupção de seu governo. No entanto, Moro saiu pouco mais de um ano depois do governo criticando Bolsonaro. Ele alegou supostas interferências do governo na Policia Federal e, consequentemente, no combate a crimes.

Nessa área, ao longo de quatro anos, houve o processo de flexibilização do porte de armas de fogo, entre outras medidas de combate à criminalidade.

Nas relações internacionais, o Brasil se alinhou com os interesses dos EUA, tendo Bolsonaro o presidente americano Donald Trump como aliado, além de um maior alinhamento com Israel. No entanto, houve diversos momentos de atrito com países como a China, maior parceiro comercial brasileiro, inclusive com ameaças de ambos lados.

Com a União Europeia, a relação também não foi das melhores, neste caso por conta de divergências em relação às questões ambientais e da Amazônia. Bolsonaro manifestou-se, em diversas ocasiões, com ceticismo em relação às mudanças climáticas e promoveu uma flexibilização das leis ambientais, o que ampliou o desmatamento, conforme especialistas.  

Covid

No entanto, o ponto mais controverso de todos no governo Bolsonaro esteve no combate à Covid. Quando a pandemia surgiu, no primeiro semestre de 2020, houve uma confusão generalizada em relação às medidas a serem adotadas no combate ao vírus.

Isso aconteceu não só no Brasil como em todo o mundo, já que não existia uma vacina específica para Covid, nem mesmo um tratamento adequado e eficaz, comprovado.

Assim, o governo brasileiro travou uma batalha contra governadores de estados e o STF, que tomaram medidas no sentido inverso às defendidas pelo governo federal. Nos primeiros meses da pandemia, Bolsonaro chegou a classificar, em rede nacional, o vírus como uma “gripezinha”, e foi contra medidas de isolamento social e uso de máscaras.

O embate também foi travado com especialistas em saúde pública, que não concordavam com os direcionamentos do governo. Dois ministros da Saúde foram demitidos, inclusive, por discordâncias com o governo.

Tudo isso, causou confusão entre a população, transformando a crise sanitária em uma disputa política, polarizada. De um lado, os que defendiam o isolamento e uso de máscaras; de outro, os que apoiavam, por exemplo, o tratamento precoce.

A atuação do governo Bolsonaro na pandemia resultou em uma CPI no Congresso. Ao longo dos debates, se questionou um possível atraso do governo nas negociações para compra de vacinas contra a Covid.

Contudo, após uma dificuldade inicial, o Brasil acabou sendo um dos países do mundo com maior quantidade de pessoas vacinadas. 

Derrota de Bolsonaro

Não é possível avaliar de forma objetiva se a pandemia ajudou na derrota de Bolsonaro em 2022, mas sua postura durante a crise sanitária causou grande desgaste à imagem do governo.

Ao mesmo tempo, a Covid prejudicou imensamente a economia, que vinha com boas perspectivas antes da pandemia, até fevereiro de 2020.

Para evitar um colapso social, o governo lançou o auxílio emergencial, um programa de transferência de renda destinado a milhões de pessoas que perderam seu sustento durante a pandemia.

Implementou também programas de manutenção de emprego e renda, linhas de crédito para empresas, flexibilização de regras trabalhistas, entre outras medidas.

Tudo isso elevou, sobremaneira, os gastos do governo, trazendo rombo nas contas públicas. Em seguida, houve pressão inflacionária, o que levou o BC a elevar os juros, impactando a atividade econômica.

Governo Bolsonaro versus Lula

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Fonte: Instituto de Economia da Unicamp

Por fim, sobre a derrota de Bolsonaro, é preciso considerar o próprio adversário, extremamente competitivo.

Afinal, nos dois primeiros governos de Lula, sem a pandemia, mas enfrentando a crise internacional dos EUA, entre 2008 e 2009, foram registrados crescimentos médios superiores ao mundial, e acima dos conquistados pelo governo Bolsonaro [conforme gráfico acima].

Todo esse legado histórico, de ganhos econômicos e sociais, de Lula, se sobrepôs àquele de corrupção, que foi explorado por Bolsonaro, durante a campanha de 2022.

Estados

No momento de decidir pelo novo presidente, sobretudo o eleitor das classes mais baixas – que compõem a grande parte da base de Lula – optou pelo petista, ao invés de Bolsonaro.

Isso ocorreu mesmo com o governo Bolsonaro ampliando os valores de repasses para programas sociais, como Auxílio Brasil, às vésperas das eleições presidenciais de 2022.

Cabe destacar, porém, que Bolsonaro venceu Lula em grandes estados, como São Paulo (55,24% x 44,76%), Rio de Janeiro (56,53% x 43,47%). Também superou Lula em toda região Sul e Centro-Oeste.

O que acabou fazendo a diferença, entretanto, foram os estados do Nordeste, com a Bahia, por exemplo, dando 72,1% dos votos válidos a Lula, além de Minas Gerais, com 50,2% a favor do petista.

Em resumo, apesar da derrota, Bolsonaro saiu muito forte da eleição, mas problemas com a justiça eleitoral podem comprometer o futuro de seu legado.

Trajetória de Bolsonaro

Antes de se tornar presidente, Bolsonaro passou a maior parte de sua trajetória política no Congresso Nacional. Foi eleito deputado federal, pela primeira vez, em 1990, no Rio de Janeiro, pelo Partido Democrata Cristão (PDC).

Em seguida, foi reeleito seis vezes, sendo filiados a partidos como PPR, PPB, PP e PSC. Também foi vereador na cidade do Rio de Janeiro, em 1988. Sua origem vem do Exército, que ingressou em 1973, chegando à patente de capitão.

Durante todo esse período anterior à presidência, ganhou notoriedade, como no extinto programa de TV “CQC”, por declarações polêmicas contra comunidades LGBT, indígenas e quilombolas. Além disso, causou polêmica com falas consideradas desrespeitosas às mulheres e em defesa do período da ditadura militar.

Família

Nascido em Glicério, no Estado de São Paulo, em 21 de março de 1955, Bolsonaro é casado com Michelle de Paula Firmo Reinaldo Bolsonaro, ex-primeira dama, com quem tem uma filha, Laura.

De relacionamentos anteriores, o ex-presidente tem mais quatro filhos: Flávio, Carlos, Eduardo e Renan. Os três primeiros seguiram os passos do pai. Flávio é senador; Carlos é vereador; e Eduardo, deputado federal.

(Cândido Mendes)

Imagem: ettore chiereguini/ Shutterstock.com