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O que foi o Plano Real?

Lançado em 1994, o plano foi o responsável pelo fim da hiperinflação que existia no Brasil, até então. Confira todos os detalhes!

Programa que estabilizou a economia brasileira e acabou com a hiperinflação, o Plano Real foi lançado em 1994 e até hoje é considerado um sucesso, sendo responsável pelos avanços sociais e econômicos das últimas décadas do País.

Com o plano, foi lançado o real, a moeda em circulação no Brasil desde então, estável e confiável. Antes, o país conviveu com diversas moedas, que sofreram enormes desvalorizações e que foram sendo substituídas ao longo dos anos.

O Plano Real foi idealizado durante o governo do ex-presidente Itamar Franco (de 29 de dezembro de 1992 a 1º de janeiro de 1995). A implantação do plano, porém, foi realizada pela equipe de seu então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso (FHC).

O lançamento e a perfeita execução do Plano Real ajudaram FHC a se eleger presidente da República, em 1994. Fernando Henrique Cardoso governou o Brasil de 1995 a 2002, tendo garantido a estabilidade para o Plano Real, que segue até os dias de hoje.

Para entender mais sobre o que foi o plano, como foi sua implantação e importância até hoje siga neste artigo!

Por que o Plano Real foi criado?

A origem do Plano Real esteve ligada a mais uma tentativa – só que desta vez exitosa – de estabilizar os valores monetários no Brasil, após uma década de forte crise econômica e desvalorização da moeda, gerando hiperinflação.

Quem nasceu antes do início da década de 80 se acostumou com os constantes cortes de zeros na moeda, congelamentos de preços, indexadores e confisco da poupança, como o ocorrido no governo Collor.

E foi exatamente isso que o plano buscou combater, com muita desconfiança, quando foi implementado: acabar com a alta desenfreada dos preços. Grosso modo, a hiperinflação foi um momento de disparada diária dos preços.

Uma mesma nota que poderia comprar um pacote de arroz num dia, no outro poderia só ser capaz, por exemplo, de adquirir um pacote de biscoito. Dessa forma, para não ver o dinheiro evaporar, de um dia para o outro, as pessoas corriam para depositar os seus valores nos bancos.

Foi aí que surgiu o overnight, depósitos de curtíssimo prazo, em contas remuneradas, que ajudavam, alguns poucos cidadãos, a se proteger da inflação. 

Impactos

Não por acaso, a inflação afetava, sobretudo, as pessoas mais pobres, que não conseguiam ficar fazendo aplicações financeiras, e corriam, assim que recebiam o salário, para o supermercado, comprando e estocando produtos, antes que ficassem mais caros.

Os comerciantes, por sua vez, precisavam reajustar os preços dos seus produtos, nos mercadinhos, por exemplo, recuperando a perda com a inflação, mas acabavam, invariavelmente, embutindo algum valor a mais. 

Isso levava a mais alta dos preços. Quem se lembra dos “fiscais do Sarney”? Em 1986, o presidente José Sarney, após lançar o Plano Cruzado, pediu para os cidadãos irem aos mercados para fiscalizar se estava ocorrendo alta dos preços.

A tentativa do governo chegou a, aparentemente, dar certo, tendo o apoio da sociedade e da imprensa. Entretanto, conforme os comerciantes não podiam reajustar os seus preços, não conseguiam recompor os seus estoques nas prateleiras.

Assim, começou a faltar produtos no comércio. E, com falta de produtos, se gerou mais alta dos preços. Isso que aconteceu nos anos 80 no Brasil se assemelha com o que acontece nos últimos anos com a Venezuela e, em algum grau, atualmente, com a Argentina.

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Esse processo provocou uma séria crise econômica, levando o país a registrar uma grande recessão nos anos 80. Vários governos tentaram – em vão – resolver o problema, com planos mirabolantes, que funcionam por um tempo. Mas a inflação voltava.

Foram, no total, seis planos econômicos fracassados, antes do Plano Real.

  • Plano Cruzado I, em fevereiro de 1986;
  • Plano Cruzado II, em novembro de 1986;
  • Plano Bresser, em junho de 1987;
  • Plano Verão, em janeiro de 1989;
  • Plano Collor I, em março de 1990;
  • Plano Collor II, em janeiro de 1991.

Inflação no Brasil

A cada plano econômico fracassado mais a inflação disparava. De acordo com o Banco Central, em dezembro de 1990, existiam 16 milhões de contas bancárias, para uma população de 146 milhões.

Dessa forma, menos de 10% da população conseguia proteger o seu dinheiro. Em resumo, a inflação desenfreada gerava incertezas, desestimulava o investimento e prejudicava o crescimento econômico.

Por isso, o sucesso do Plano Real quebrou a espinha dorsal da inflação no Brasil. Abaixo, confira o gráfico do Banco Central com os porcentuais da inflação – antes e depois da mudança da moeda.

Disparada dos preços: antes e depois do Plano Real (1986 a 2019)

Fonte: Banco Central e IBGE

Plano Real: Como foi o processo de criação?

O Plano Real começou, efetivamente, em 1993. Antes de ser lançado, oficialmente, no dia 1º de julho de 1994, algumas etapas anteriores foram necessárias. 

Essas foram as três fases executadas:

  • Ajuste fiscal emergencial: Corte de gastos e equilíbrio das contas do governo, com revisão do orçamento, incluindo repasses a estados, municípios, bancos estaduais e federais. Além disso, houve aumento do combate à evasão fiscal e privatizações, para aumentar a receita. Por fim, se criou um Fundo de Estabilização Fiscal, desvinculando receitas do governo federal.
  • Criação da Unidade Real de Valor (URV): Entre março e junho de 1994, os preços eram declarados em URV – uma moeda escritural ou virtual. A URV era uma unidade de conta e não podia ser usada como pagamento. Ela era atualizada diariamente pelo BC em Cruzeiros Reais (CR$) – a moeda em circulação na época, entre a população.
  • Lançamento do Real: Em 1º de julho, 1 URV valia CR$ 2.750,00, que equivalia a 1 real (R$). Assim foi sendo introduzida a nova moeda, forte e estável. Foi estabelecido ainda um teto para a taxa de câmbio. O BC tinha controle ainda sobre os depósitos compulsórios, controlando a expansão de empréstimos bancários. 

Em resumo, a URV foi uma “unidade de conta”, ou seja, não existia em papel. No dia 1º de março de 1994, uma URV valia CR$ 647,50; no dia seguinte, CR$ 657,50. E assim foi sendo reajustada, diariamente, por quatro meses.

Por fim, chegou a CR$ 2.698,46, em 29 de junho de 1994; e a CR$ 2.750,00, em 30 de junho de 1994; sendo abolida, no dia seguinte, em 1º de julho de 1994.

Transição das moedas

Assim, enquanto os preços subiam em Cruzeiros Reais, os em URV se mantinham estáveis. O plano do governo, durante esse período de transição, foi o de “ensinar” os agentes econômicos a não reajustarem os seus preços, com base na inflação passada.

Nesse sentido, a URV serviu para travar o valor da chamada inflação de inércia (que nunca deixa de ser elevada). Por isso, é que o plano gerou muita desconfiança quando foi lançado. 

Em paralelo, a partir de abril de 1994, começou a ser feita a substituição das cédulas de Cruzeiros Reais (CR$) em Reais (R$). De acordo com o Banco Central, até o dia 30 de junho, com o Plano Real, entraram em circulação mais de 940 milhões de cédulas e 688 milhões de moedas. 

As pessoas, na época, trocaram as notas e moedas velhas – até setembro de 1994 – pelas novas, de reais, que valem até hoje.

Importância do real

O combate à alta dos preços é algo que nunca deixou nem deixará de existir no Brasil, por parte do Banco Central. Uma das ferramentas do BC para controlar a inflação é com a alta dos juros, que são elevados toda vez que os preços dão sinais de elevação. 

No entanto, é pouco provável que o Brasil reviva um processo de hiperinflação, com descontrole das contas públicas, instabilidade política, indexação da economia e falta de confiança, que obrigava o governo a emitir mais moeda, levando à inflação, como ocorreu na 2ª metade dos anos 80 e 1ª dos 90.

Em suma, o Plano Real proporcionou os pilares da estabilidade econômica, que nos últimos 30 anos reduziu a pobreza e a desigualdade, fortaleceu o mercado interno, trouxe recursos estrangeiros e institucionalizou a disciplina fiscal do governo.

(Cândido Mendes)

Imagem: Andrzej Rostek/ shutterstock.com